José Castro
Um canal de televisão, fez recentemente afirmações sobre os habitantes do norte do país. Essas afirmações, nada delicadas, geraram uma reação imediata nas redes sociais. Dessas reações, muitas eram interessantes e fundamentadas, outras, infelizmente, só acabariam por dar alguma “veracidade” às afirmações referidas. A região Norte, em termos administrativos, é constituída por 86 municípios, 8 unidades NUTIII, 1.426 freguesias e onde vivem cerca de 3.6 milhões de habitantes. Claro que sabemos que há pessoas mal-educadas, que infelizmente há pobreza e que felizmente existem muitos idosos. O problema não são os idosos, mas sim a ausência de condições dignas para os acolher. Problema será a ausência de jovens! (Por curiosidade, as projeções do número de idosos para 2080, apontam que a Área Metropolitana de Lisboa terá um valor superior em comparação com a zona Norte). Os dados provisórios para 2019, apontam infelizmente que a “taxa de risco de pobreza ou exclusão social” e a “taxa de privação de material severa”, são das mais elevadas na zona Norte, pese embora o seu contributo de cerca de 29% para o PIB da economia nacional. Não deixa de ser curioso que a zona do País que cria mais riqueza por habitante (em 2017) não seja a zona da AM Lisboa mas sim o Alentejo litoral!
Estas assimetrias identificadas em Portugal, com incidência negativa na zona Norte, só responsabilizam ainda mais o poder político (seja qual for a ideologia política do governo), pois não se podem lembrar dos seus 3.6 milhões de pessoas apenas para os atos eleitorais!
Vivo em Portugal, na zona Norte, com muito gosto. Estou pois grato a todos os nortenhos que, quer profissionalmente, quer pessoalmente, me permitem ser o que sou e me desafiam continuamente a superar-me. Uma coisa é o bairrismo, até mesmo o nacionalismo saudável, tolerante e fraterno com todos os outros! Outra é o fanatismo, seja da cidade, do concelho, distrito, do país, do clube de um qualquer desporto, da religião, etc. Por isso mencionei que vivo aqui, mas “não sou de cá”! Não pertenço apenas à minha cidade, região ou país, mas a um planeta Terra, ao Universo. Esta visão holística permite ultrapassar orgulhos e vaidades e constatar que todos estamos mais próximos que afastados, nas coisas que realmente interessam. Dois factos são exemplificativos do quanto cada vez mais vivemos interligados. Um foi a Internet, que através, nomeadamente das redes sociais, nos permite estar “conectados” a um qualquer ser humano que disponha dos mesmos recursos. Outro, foi a atual Pandemia que uniu, através do sofrimento, da ansiedade e do medo milhões de pessoas. Afinal, aquilo de temos de nos orgulhar é mesmo da solidariedade, da fraternidade, principalmente nas “provas” mais difíceis, que fortalecem o sentimento de união, onde a região, idade, sexo, etnia, religião e riqueza não importam.
Sabemos também que um dia, vamos partir e tudo o que foi conquistado materialmente cá vai ficar! Vivemos temporariamente aqui, mas “não somos de cá”! Somos do universo!