Sílvia Ferreira de Carvalho
O tema inevitável, no momento, é o facto de estarmos a viver uma pandemia, devido à Covid-19, no entanto, aqueles que elegemos, e que são tantos e tão bem pagos, têm tempo para discutir a organização de um evento e os seus respectivos convidados, no caso as comemorações do 25 de Abril, isto num momento em que muitos perderam a vida para este vírus, nas últimas semanas, outros lutam por ela, vários profissionais arriscam as próprias vidas para salvar a de terceiros, vários portugueses ou residentes em Portugal ficaram sem emprego, ou estão só a receber uma percentagem dos seus rendimentos e em que a maioria das empresas não consegue aceder aos apoios anunciados. Tudo estranho, mas real.
Já muitos estarão preparados para a ofensa, pelo menos mental, mas lembrem-se o 25 de Abril acabou com o lápis azul, portanto, a questão é esta, claro que essa é uma das datas mais importantes do nosso país, isso é indiscutível, mas podia perfeitamente ter lugar de uma forma diferente a sua comemoração, afinal o que o Governo e o Presidente da República nos têm pedido é para fazer quase tudo diferente e em determinadas situações imposto e bem, pois o estado de emergência assim o exige e a nossa Lei maior o permite.
A questão é o 25 de Abril perdia valor por não ter convidados este ano?! Significa isso que a Páscoa para os que a comemoram este ano perdeu valor, pois não teve lugar o cortejo pascal, assim como os aniversários que não puderam ser comemorados em família, ou os bebés que nasceram mas a família alargada não conheceu, pessoalmente ainda, ou mais triste aqueles que não tiveram os seus na sua última despedida, como é a nossa tradição, perderam importância?! Obviamente que não, tal como o 25 de Abril não perderia.
Este devia ser um artigo jurídico, afinal legislação para analisar é o que não falta, pois como impõe a situação actual, a todo momento surgem novas portarias, despachos e decretos, mas, tal como o parlamento desviei-me do tema, desta vez, no meu caso para dizer OBRIGADA e DESCULPA.
A todos que não deixaram de recolher os resíduos, apesar de alguns os despejarem para não tocarem nos contentores, pois por alguma razão incompreensível acharam que eram superiores, ou então são apenas ignorantes em matéria de saúde pública.
Aos profissionais de saúde e de limpeza hospitalar que se arriscam na linha da frente durante horas e horas, dias e dias, mas depois vêem fotos e vídeos de pessoas que tinham que ir passear para locais a quilómetros de distância de casa, com a justificação de que estão fartos de estar no mesmo local, sorte a nossa que os profissionais de saúde não fazem o mesmo perante o cansaço que certamente os assola.
A todas as forças de segurança que como sempre estão na frente da batalha, e passam o dia a dizer coisas óbvias às pessoas, pois apesar de toda a gente saber as regras, alguns optam só por não as cumprir, mesmo sabendo que isso pode levar a que eles próprios, nós ou alguém que amamos profundamente morra, pois mesmo os que podem e estão em casa terão que sair ainda antes da tempestade acabar.
Aos bombeiros que são como sempre heróis de serviço permanente e que como é hábito não nos abandonaram, apesar de muitos terem demorado demasiado tempo a receber os materiais necessários à sua própria protecção.
A todos os camionistas, repositores e funcionários de mercados, mini-mercados e super-mercados que garantem que não nos faltam os bens essenciais e não desistiram, mesmo quando viveram o estranho episódio do papel higiénico (ainda sem explicação).
Aos que se adaptaram para produzir o que o país precisava e assim garantiram também os postos de trabalho dos seus funcionários, mesmo no meio do caos.
Não é possível citar aqui todas as profissões que estão a zelar pelo nosso bem estar e a garantir que o país não para, mas OBRIGADA a TODOS.
Por último, a todos que doaram bens ou dinheiro, para o tanto que tem sido necessário, não só material hospitalar, como bens de primeira necessidade, para fazer face ao aumento da pobreza, mesmo depois do que aconteceu com as doações que tiveram lugar após os incêndios de 2017.
Obrigada 25 de Abril, por tudo, nomeadamente, por ser possível escrever este artigo de opinião.