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Cidadania e Sociedade

VOLTAR AO COMÉRCIO TRADICIONAL

Mateus Oliveira

Voltar ao comércio tradicional, “lugar” de história e de estórias

O comércio tradicional é essência. É distinto. É memória. O comércio tradicional carrega valor histórico, cultural ou social local. Define-se, muitas vezes, pela riqueza de elementos arquitectónicos, urbanísticos e artísticos. E, claro, económicos. Mas, acima de tudo, define-se pela sua riqueza imaterial: as pessoas e as relações afectivas e empáticas que se estabelecem entre comerciantes e clientes. Entre amigos, na maioria das vezes.

Efectivamente, parte muito significativa das cidades que conhecemos evoluíram, também do ponto de vista morfológico, como consequência da organização de pequenos espaços de comércio que ainda hoje se mantêm. Ou que, entretanto, se transformaram ou reinventaram. [Não é por acaso que o “urbanismo comercial” (sustentado na valorização/protecção/dinamização do comércio local em detrimento de grandes superfícies) adquire cada vez mais relevância nas políticas de desenvolvimento em algumas das cidades mais importantes da Europa.] Sendo que, contudo, mantêm essa mesma capacidade de se assumirem como elementos que viabilizam a existência e estruturação do próprio espaço urbano. O passeio pelo comércio tradicional é parte fundamental da vida da cidade. Porque lhe tem inerente a essência da cidade: as pessoas. O sangue que percorre as artérias da cidade. E é desta simbiose que resultam fontes de informação social e histórica e que emergem contactos e relações.

São, aliás e como é óbvio, essas mesmas relações que permitem ao comércio tradicional um atendimento personalizado, em que se pode confiar, e que fazem qualquer pessoa sentir-se em casa. Ou no “terapeuta”. É amiúde a loja da rua tornar-se lugar de risos, de choros, de inconfidências, de desabafos… enfim, de afectos e de estórias e vivências múltiplas, muito para lá da mera transacção comercial. Até porque, na maior parte dos casos, o atendimento é feito pelos próprios dono e pela paixão intrínseca que têm pelos seus espaços.

Hoje, por força das circunstâncias muito particulares que vivemos, o comércio tradicional recolheu-se. As ruas acinzentaram-se.  Daqui a bocadinho, quando começarmos a reabrir as portas da normalidade, é fundamental escolher o comércio tradicional para fazer compras. Porque hoje, mais do que nunca, esses espaços serão fundamentais à vida das cidades, às vivências significativas do espaço urbano e à salvaguarda do património, história e memória colectiva local. Para que, em breve, tudo possa ter um brilho mais colorido que antes.

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