Paulo Morais
A pele é o maior órgão do corpo humano, correspondendo a 16% do seu peso (quase 2m2 num adulto). É composta pela epiderme e derme, abaixo da qual se situa a hipoderme.
A pele é uma barreira protetora essencial face ao meio externo, impedindo a agressão por microrganismos, agentes físicos e químicos, mas tem outras funções vitais: está envolvida na termorregulação, tem funções excretoras (através do suor), ajuda a manter o equilíbrio hidroeletrolítico, tem funções sensoriais e imunológicas, e participa na síntese de vitamina D.
Do ponto de vista químico a pele é: 70% água, 27,5% proteínas, 2% substâncias gordas e 0,5% sais minerais e outros oligoelementos.
Em termos de estrutura, a epiderme é constituída maioritariamente por células chamadas queratinócitos que se vão diferenciando desde a camada mais inferior, a basal, até à mais superficial, a camada córnea.
Nesta, as células não têm núcleos, chamam-se corneócitos, e organizam-se em camadas como se fossem tijolos, unidos por uma matriz ou cimento extracelular/intercelular lipídico composto por ceramidas, colesterol, ácidos gordos, esfingolípidos, lípidos neutros, entre outros, essencial para a barreira hídrica.
A camada externa da pele, a córnea, e a sua integridade, são essenciais também para limitar a perda de água e manter o equilíbrio hídrico e assim reduzir os efeitos da secura causados pelo ambiente e agressões externas.
É normal haver uma perda transepidérmica de água (ou perdas insensíveis de água), mas quando a barreira cutânea não está íntegra esta perda pode ser excessiva.
Há também substâncias intracelulares determinantes para manter/reter a água na camada córnea, produzidas por meio da degradação da proteína profilagrina, que compõem o chamado fator hidratante natural. Consiste em ureia, aminoácidos, ácido lático e pirrolidona carboxílico, iões minerais e açúcares, que têm a capacidade de reter água (papel higroscópico), em particular a presente no meio ambiente, à superfície da pele e evitar a evaporação.
O filme hidrolípidico encontra-se à superfície da pele funcionando como uma barreira externa impermeável para defender o corpo de microrganismos e assegurar a hidratação e as trocas de água e outras substâncias com o ambiente, mantendo a pele suave ou macia. É uma emulsão de água e gordura composta por lípidos das glândulas sebáceas, substâncias derivadas da quebra de proteínas, restos celulares e água derivada da perda transepidérmica e transpiração/suor. Ou seja, é maioritariamente composto por sebo (95%) e suor. A sua quantidade e composição varia de acordo com o local do corpo, fatores externos e internos, como a estação, humidade do ar, dieta, stress ou doenças.
Este filme hidrolipídico é também responsável pelo manto ácido da pele (derivado do componente hidrofílico – a água – que contém componentes ácidos como o ácido láctico, pirrolidona carbolílico e aminoácidos). Este manto faz com que o pH da pele seja ácido, entre 4,7 – 5,75.
A qualidade e quantidade dos componentes epidérmicos e do filme hidrolipídico é que determinam os vários estados da pele (hidratada / desidratada) e o tipo de pele. Alterações na sua composição refletem-se, portanto, nas propriedades e funcionalidades da pele.
A hidratação da pele é decorrente do equilíbrio entre a água fornecida internamente (ingerida; lembrar que 50-65% do nosso corpo é água e que devemos ingerir pelo menos 2 litros de água por dia), ou por produtos dermocosméticos, e as perdas (perda transepidérmica de água, evaporação, suor).
Diversos fatores internos e externos contribuem para a estrutura e tipo de pele, a saber:
- Fatores genéticos,
- Idade,
- Envelhecimento,
- Fatores climáticos (clima frio e seco),
- Exposição aos raios ultravioleta,
- Produtos de higiene/limpeza,
- Banho quente e prolongado,
- Esfoliação excessiva,
- Tipo de cosméticos utilizados,
- Ingestão reduzida de água,
- Patologias (eczema, psoríase, ictiose, acne, entre outras),
- Queimaduras e lesões cutâneas,
- Substâncias químicas,
- Produtos tópicos (acne, rugas) ou medicamentos orais,
- Alterações hormonais,
- Poluição ambiental,
Tipos de pele
A classificação dos tipos de pele em seca, oleosa, normal ou mista foi efetuada por Helena Rubinstein no início do século XX. É ainda utilizada pois permite classificar e escolher os produtos e necessidades estéticas específicas para cada tipo de pele.
Uma pele normal é uma pele equilibrada, macia, viçosa, luminosa, com uma boa troca celular ao nível da epiderme, um filme hidrolipídico uniforme e funcional, concentração adequada de fator hidratante natural e produção adequada do cimento extracelular lipídico (ceramidas, etc.). Adapta-se e resiste aos estímulos externos e internos e restaura o seu equilíbrio. A pele normal pode ser consequência de um bom património genético ou a uma mistura deste com a alimentação, hábitos de vida e cuidados redobrados com a escolha dos cosméticos que evitem a secura e a oleosidade.
A pele seca é áspera, baça, sem luminosidade, frágil, descamativa, facilmente irritada, mais sensível e com mais tendência a enrugar. Tem falta de água, mas especialmente de lípidos/sebo, de nutrientes. Podem faltar ceramidas, fator hidratante natural, ou há alterações no filme hidrolipídico ou na renovação celular na epiderme.
A pele oleosa carateriza-se por uma produção excessiva de sebo pela glândula sebácea, conferindo à pele de todo o rosto uma aparência brilhante, oleosa, com poros mais ou menos dilatados, tendência para pontos negros e acne. Pode ficar oleosa como resposta excessiva à perda de gordura, por exemplo em pessoas com usam sabões agressivos e desengordurantes (a pele compensa produzindo mais sebo).
A pele mista tende a ser oleosa na zona T (nariz, testa e queixo), eventualmente com poros dilatados, e seca nas bochechas e à volta dos olhos. É o tipo de pele mais comum. Necessita de cosméticos que consigam equilibrar a estrutura e funcionalidade da pele.
Como escolher os produtos para cada tipo de pele?
- Produtos de limpeza suaves e que limpem sem agredir, nem alterem o filme hidrolipídico, que podem ser em mousse, gel, pain, creme lavante, água micelar,…
- Tónico facial adequado ao tipo de pele: mais adstringente na pele oleosa, mais hidratante na pele seca.
- Escolher sempre um creme hidratante, protetor solar ou maquilhagem adaptada ao tipo de pele. Procurar, p. ex. as designações oil-free, sem gordura ou não comedogénico nos produtos para pele oleosa.
Que tipos de hidratantes existem/como atuam?
- Os agentes hidratantes podem atuar trazendo água e substâncias/nutrientes em falta à pele, restaurando-a (hidratantes ativos), retendo e prevenindo a perda de água (humectantes) ou captando água do ambiente (higroscópicos).
- água termal, ureia, ceramidas, ácido hialurónico, niacinamida, manteiga de Karité, ómegas 3 e 6, glicerina, D-pantenol, óleo de sementes de girassol, vitamina E, vitamina B5, etc.
MITOS:
Pele oleosa não necessita de hidratação? Falso. Todos os tipos de pele necessitam de hidratação. No caso da oleosa, o ressecamento, por exemplo causado por lavagens excessivas, pode causar um efeito rebote, agravando a oleosidade. Por isso deve ser hidratada, mas com produtos adequados, com textura fluída/ligeira (cremes óleo em água, gel), matificantes ou normalizadores do sebo, oil-free e não comegogénicos.
Pele seca e pele desidratada são a mesma coisa? Falso. Pele seca é um tipo de pele que se deve à baixa produção de sebo; pele desidratada é um estado da pele, temporário, que pode ocorrer na pele seca, na oleosa, mista ou normal, devido à falta de água/humidade nas camadas superiores da epiderme. Na última, a pele pode adquirir um aspeto rosado, áspero, descamativo e fissurado, e com sensação de desconforto e estiramento/repuxamento.
A hidratação do rosto e corpo deve ser igual? Depende. Cada área do corpo tem caraterísticas e necessidades diferentes, exigindo produtos específicos. Caso sejam usados em locais inadequados podem surgir efeitos indesejados. Um creme de corpo, ou mãos, demasiado gorduroso, quando aplicado na face pode trazer mais oleosidade e até provocar acne. No entanto, em algumas doenças em que a pele é globalmente seca, como no eczema atópico, isso pode ser menos relevante e a fórmula pode ser idêntica para a face e restante corpo.
A água termal ajuda na hidratação? Verdade, pois são ricas em minerais que ajudam a manter a hidratação da pele e melhorar a sua humidade. Além disso acalmam e refrescam a pele.
Assim, o estado ideal da pele representa um equilíbrio entre a estrutura e a funcionalidade que permite manter a sua integridade a todos os níveis e parecer saudável, suave, macia, luminosa e elástica.
Numa palavra: perfeita.