José Castro
A maioria dos seres, nomeadamente no reino animal, necessitam de dois progenitores (exceto fenómenos de telitoquia) e de uma gestação mais ou menos longa (12 dias num gambá (Didelphis) e cerca de 700 dias no elefante (Elephas maximus indicus)) até ao seu nascimento. Os cuidados com os filhos no mundo animal também apresentam várias possibilidades. Aqueles que os cuidam com extremo zelo, dedicação e “amor” (presumo que maioritariamente) até àqueles que impassivelmente assistem à violência entre os filhotes até à morte ou mesmo que os comem em determinadas situações.
Se em muitos casos podemos e devemos aprender com o mundo animal, reconhecen-lhes características físicas mais desenvolvidas que nos humanos, assim, como emoções e pensamentos (daí a designação de pessoas não humanas, em algumas situações ), é no ser humano que a nível cerebral, fruto da evolução de milhões de anos, ocorre a maior diferença que nos capacita (se treinada) a ter uma consciência e um sentido ético superior.
Mas será sempre assim?
Quando se está prestes a comemorar o Dia Internacional da Família, não podemos deixar de refletir sobre o caso do homicídio de Valentina Fonseca. Que leva um pai, alegadamente um ser humano, a ter comportamentos dos mais violentos patentes no reino animal? Que leva um pai a praticar esse ato de extrema violência numa criança, na presença de outras crianças? Quanto desequilíbrio emocional e espiritual estará presente nesse ser humano?
Estes e outros casos vêm (infelizmente) acabar com o “mito” que na família tudo é amor, que os do mesmo “sangue” são sempre unidos, etc. A presente pandemia que todos estamos a presenciar poderia ser uma oportunidade excelente para estreitar laços familiares. Contudo estes não são os dados disponíveis, uma vez que estão a aumentar os níveis de violência doméstica!
Não é título “família” ou de “pai”, “mãe” ou “filho,” que garantem só por si, que tudo vai ser paz e amor. Não é, o ser “analfabeto”, “licenciado” ou “doutorado, ser do “campo” ou da “cidade,” ser “rico” ou “pobre” que automaticamente garantem um clima cheio de amor!
O que está e sempre estará em causa, é o bem-estar integral (físico, mental, social e espiritual) de cada individuo. A célula da sociedade, a família, independentemente de como é constituída, só cumprirá a sua função biológica, social, psicológica, económica cultural e espiritual quando cada um compreender as suas responsabilidades pessoais, familiares e sociais, quando cada um encontrar sentido e propósito de vida e estiver em paz consigo e com os outros. Aqui, nos outros, incluímos os nossos amigos animais, que muitas vezes são os únicos a dar um pouco de paz e alegria ao contexto familiar, assim, como infelizmente são os primeiros a sofrer de violência!
É possível uma nova “humanidade” onde os valores mais profundos deixem de ser meras “palavras feitas”, em discursos, tratados, convenções e leis muito bonitas, para assim termos comportamentos congruentes com essas palavras. A começar na familia de “sangue”, alargar a toda família humana e claro expandir para todos os outros Seres.
Afinal, esperar que os outros mudem, não resulta. Todos esperam que todos façam mudanças e ninguém faz! O desafio é individual….e, nesse sentido, deve pensar o que pode fazer de diferente para melhorar o seu ambiente familiar. Seja assim um agente de mudança neste mundo!