Joana Benzinho
Mais do que falar-vos da Guiné-Bissau, hoje vou falar-vos do Franco, um italiano que vive e ama incondicionalmente a Guiné-Bissau.
Há mais de quatro décadas começou por se apaixonar por uma guineense de olhos cor de esmeralda que de férias por Itália, tropeçou nos seus olhos cor de oceano, e desde então nunca mais se largaram. Ao virar do século rumaram à Guiné-Bissau para continuar a viver o seu amor e iniciar um projeto de vida diferente. Depois de umas aventuras com um barco de passageiros que navegava pelos Bijagós, instalaram-se na praia de Varela, no norte do país, e aí criaram raizes e história. Num pequeno hotel no meio de absolutamente nada, proporcionaram todas as condições para qualquer turista se sentir em casa e sobretudo muito bem tratado, num quadro simplista mas cheio de caracter, bom gosto e qualidade. O Franco trouxe de Itália e da sua carreira profissional o gosto e o conhecimento da arte de bem cozinhar. E a capacidade de reinventar o mundo gastronómico com os produtos locais, conjugando diferentes cozinhas num prato único. A singularidade desta história liga-se ao facto de Varela distar umas boas cinco horas da capital e daquela panóplia de produtos por nós considerados essenciais para compor um prato. Ali não se encontra praticamente nada. Por vezes nem peixe fresco pois, apesar do mar e da variedade de pescado ali existente, os pescadores, que são raros, canalizam o seu pescado para o mercado senegalês, mesmo ali ao lado. Mas para o Franco tudo é possível. Na sua mesa há sempre uma massa fresca como entrada, seguida de um prato de carne ou peixe e, claro, da sua maravilhosa e variada doçaria. Apesar de muitas vezes não haver mozarela no país, as natas que tanto gosta de usar estarem esgotadas há semanas ou o chouriço picante ser uma adaptação local, à falta do original, ele torna tudo possível. Na sua horta não falta o manjericão ou a erva príncipe para o chá.
Em Varela, na casa do Franco e da Fá comi a melhor pizza de que tenho memória, acompanhada das suculentas ostras da vizinha localidade de Susana e de uma cerveja bem fresquinha, “toka e tchora”, como se diz na Guiné. Entre dois mergulhos nas águas cálidas do Atlântico, que mais se pode pedir para pintar um quadro de sonho?
Nos dias que correm os olhos cor de oceano do Franco enviuvaram da sua paixão verde esmeralda, mas decidiram não abandonar a Guiné-Bissau. Porque é em Varela quer morrer um dia e descansar para a eternidade ao lado do amor da sua vida.
Ali continua a viver e a sonhar, a fazer massa fresca maravilhosa para os amigos que o visitam na sua nova casa e a semear bonitas hortas e ervas aromáticas para as suas especialidades que ambiciona voltar um destes dias a partilhar com amigos e turistas que por ali venham a passar.
O exotismo de um italiano no meio de uma tabanca Felupe banhada pelo Oceano Atlântico é, pela sua simplicidade, uma das mais bonitas histórias de amor que conheço. A história de amor do Franco pela Fá, pela cozinha e pela Guiné-Bissau.