Home>Lifestyle>A BELEZA DAS COISAS SIMPLES
Lifestyle

A BELEZA DAS COISAS SIMPLES

Joana Benzinho

No verão é habitual a chuva dar um ar da sua graça dia sim, dia também, na Guiné-Bissau. Começa a meio de maio e rega as terras bem ressequidas do sol africano até final de outubro. Mas foi num dia do final de julho sem chuva que assisti neste país a um dos fenómenos mais impressionantes que testemunhei da vida animal.

A noite caiu e o céu pesava com um forte calor húmido, típico da época, mas talvez mais asfixiante pois havia três dias que não caía pingo de chuva. À mesa do jantar, num pequeno hotel à beira mar, em Varela, éramos apenas dois para nos deliciarmos com a maravilhosa comida guineense.

De repente, começamos a ver uma enorme mancha de insectos voadores a vir na direção das duas luzes que iluminavam o bungalow em que estávamos sentados. Apagámos a luz que incidia sobre nós e ficámos imóveis a assistir a um espectáculo único de dança frenética junto da outra luz, a única que ficou para nos permitir testemunhar a beleza do momento. As formigas aladas, milhares delas dançaram, rodaram, voltaram centenas e centenas de vezes a passar junto daquela luz. Depois de minutos de transe voador e do ritual de acasalamento e fecundação das formigas rainhas, começamos a ver cair algumas destas formigas, as asas a desprender-se do corpo e a caírem de forma seca no solo que ficou assim manchado de preto (elas) e prata (as asas). A luz começou entretanto a ficar de novo mais brilhante com o afastamento desta nuvem e a iluminar o espaço o que nos permitiu ver um outro espetáculo. O das rainhas a percorrerem estradas e caminhos invisíveis, sempre em “comboio de duas carruagens”, numa viagem impaciente para a criação de novas colónias.

Foram uns trinta minutos mágicos, estes de ver a natureza a fecundar-se e a multiplicar-se neste mundo onde já pouco temos oportunidade para parar, apreciar e saborear estes momentos de rara beleza.

No dia seguinte sobravam as asas pelo chão e não voltámos a ver as formigas. A natureza completou-se e seguiu o seu ciclo.

A Guiné-Bissau tem disto. A praia de Varela dá-nos isto. A beleza das coisas simples que eu tanto aprecio.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.