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Cultura, Literatura e Filosofia

PERPLEXIDADES NUM TEMPO DE INCERTEZA

Regina Sardoeira
Não é fácil escrever um texto que faça inteiro sentido, nos tempos que correm. Vivemos uma situação contraditória, paradoxal, eventualmente aberrante.  Um novo paradigma humano impôs-se e nem todos têm sido capazes de conviver sensatamente com a mudança. E contudo, bem no íntimo, todos sabem que uma profunda transformação é necessária, se queremos subsistir, enquanto humanidade.
Porém, as mudanças doem, fazem-nos resvalar  para regiões onde os velhos hábitos de tornaram, de repente, inúteis e obsoletos. Desorientados, olhamos para trás, com um rictus saudoso e os olhos pesados de nostalgia. E, num gesto desesperado, inventamos múltiplos modos com que queremos provar que, apesar de tudo, nada mudou.
A verdade, porém, é que nada, à nossa voltá, recuperará a forma anterior.  Um violento ataque, vindo de regiões obscuras , mandatado por poderes invisíveis, ou ocultos por detrás de um disfarce, revelou a sua força e encontrou-nos desprevenidos. Estranhamente, já que os sinais estavam todos aí.
Doravante, enredados em tantas e tão complexas  dificuldades, a vida humana precisará, por fim, de harmonizar-se com a natureza, permitindo-lhe a recuperação integral, ou ver-se-á condenada à destruição. A situação radicalizou-se  em pouco tempo: o que parecia ainda longínquo, permitindo displicência nos comportamentos e leviandade nos actos, ficou alarmantemente próximo.
Dificilmente entendo como é que  a maioria das pessoas não percebe, ao menos, que é necessário mudar. Como é que não aproveitaram o tempo de pausa a que foram obrigados, para olharem à sua volta e dentro de si e, imunes ao desânimo, entenderem o que urge fazer.
Terra, mar, céu,  animais e plantas, e o homem junto, tudo tem vindo a degradar-se; e aquilo que se vai fazendo, aqui e além, não passa de uma minúscula gota do oceano que urge redimir. Era necessária uma profunda mudança global, uma sintonia de todos os humanos em torno de objectivos comuns. Comuns, exactamente, já que,  enquanto homens , partilhamos uma só e a mesma condição. Não há qualquer razão para nos supormos privilegiados ou discriminados, acima ou abaixo, dentro ou fora – somos todos humanos e, na base,  todos somos os habitantes da Terra. Emigrar para outros mundos? Colonizar outros planetas? Viajar, numa orbita infindável, em naves espaciais? Tudo isto e muitas outras hipóteses poderão ser equacionados como solução viável, quando o nosso planeta sossobrar; mas, para além de ser uma utopia, toda e qualquer existência do homem noutra dimensão que não a terrestre, que lhe deu a especificidade, a ser possível   terá como consequência a total desumanização.
É isso que queremos? A destruição desta humanidade, concebida num certo mundo e sempre em franca evolução e a mutação para outra espécie ou, apesar de tudo, ainda acreditamos em nós, enquanto humanos  e desejamos que a Terra seja a nossa preferencial morada?
Não é de todo fácil fazer uma análise do tempo actual, definido pela presença de um Inimigo invisível, mas marcadamente visível na obra destruidora, marcado, sem dúvida, pela necessidade de mudar e contudo obrigando à necessidade de enfrentar os regresso à vida normal, sob pena de graves consequências. É demasiado tarde para voltar atrás e demasiado cedo para avançar com segurança.
Por todas estas razões, não será sensato  tecer demasiadas considerações, tanto mais que o tempo é de acção –  pelo que toda e qualquer especulação soará inútil ou falsa.

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