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Cidadania e Sociedade

“NÃO CONSIGO RESPIRAR”

José Castro

Esta frase foi pronunciada por  George Floyd, um homem de 46 anos, algemado e de bruços no chão, enquanto um polícia, Derek Chauvin pressionava o joelho sobre o seu pescoço. Acabaria por falecer.

O que está aqui em causa é a morte provocada conscientemente a um ser humano que já se encontrava dominado e indefeso. Digo conscientemente, pois apesar de a vítima implorar várias vezes para respirar, nada foi feito. Não está apenas em causa o ato de violência, mas o facto de este te sido exercido por um agente da autoridade! Mesmo que esta situação tivesse ocorrido num outro cenário, onde George Floyd fosse um assassino e tivesse oferecido resistência com armas; uma situação de tiroteio ou fossem mortas várias pessoas, ainda assim não seria de todo aceitável que o polícia tivesse provocado a sua morte. Para piorar as coisas, alegadamente a causa da detenção de George Floyd foi ter utilizado simplesmente uma nota falsa!  Esta situação pode ainda ter contornos mais “graves”. Será que agiu assim por  George Floyd ser afro-americano? A certeza disso ficará para sempre na consciência do polícia Derek Chauvin.

Ainda existirá no “psiquismo” do ser humano resquícios dos momentos da escravatura e da superioridade de alguma raça? Infelizmente, em pleno séc. XXI, apesar de todas as convenções e documentos legais existentes sobre a igualdade entre seres humanos, ainda persistem comportamentos racistas e xenófobos que precisam de ser erradicados.

Curiosamente, faz hoje 25 anos que Alcindo Monteiro, jovem cabo-verdiano foi espancado por um grupo de skinheads no Bairro Alto, em Lisboa. Que motivações ou necessidades (reais ou fictícias) levam ser humanos a ter atos de violência para com o semelhante, apenas por serem de outra cor ou país? Eliminadas as situações de patologia mental (quantos homicidas afirmam “tinha uma voz interior que dizia para matar”), frequentemente são jovens de baixa auto-estima ou com elevado vazio existencial, que aderem a movimentos fundamentalistas para se sentirem integrados e lutar por uma causa (para se sentirem úteis), após lavagem cerebral por um “guru” qualquer presente na “Dark Net” ou seja, o “lado escuro da internet.”

É pois necessário investir na prevenção e esta só pode ocorrer no ambiente familiar e no Sistema Educativo, onde a compaixão por todos os seres tem de ser referida, refletida, sentida e vivenciada. Somos todos afinal Seres humanos!

Contudo não devemos cair na tentação de generalizar este tipo de comportamento policial. Desconheço o estatuto e código deontológico das forças de segurança dos Estados Unidos, mas em Portugal, tal comportamento parece violar o Artigo 8.º (Adequação, necessidade e proporcionalidade do uso da força) do Código Deontológico do Serviço Policial.   Aproveito para parabenizar e agradecer a todos os membros das Forças de Segurança, em especial as portuguesas, por todos os atos de prevenção de violência e de proteção a todos os seres. O seu trabalho é feito muitas vezes em situações de falta de recursos humanos e materiais e em ambientes de distress elevadíssimo. Infelizmente, isso é evidenciado pela taxa de suicídio dos seus elementos, que é das mais elevadas da Europa, onde quase 150 puseram termo às suas próprias vidas desde 2000. Que as Forças de Segurança sejam pois reconhecidas como merecem e que saibam atuar pedagogicamente, preventivamente e apenas quando necessário “musculadamente,” mas cumprindo rigorosamente o seu código deontológico.

Para finalizar duas questões:

Se George Floyd fosse branco, a onda de protestos teria tido a mesma dimensão?

Quantos “Alcindos” e “Georges” completamente anónimos por todo o mundo terão ainda de sofrer esta violência gratuita?

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