Isabel Madureira
Pierre Bourdieu (1930-2002), sociólogo francês, também conhecido por “investigador das desigualdades” detetou, através dos seus estudo e pesquisas, mecanismos de conservação e reprodução em todas as áreas da atividade humana, nomeadamente, no sistema educacional.
As suas pesquisas tiveram grande impacto e exerceram uma forte influência nos ambientes pedagógicos das décadas de 1970-1980.
Posteriormente, vários autores refutaram a teoria de Bourdieu, referindo que as desigualdades não se reproduzem completamente nas escolas. No entanto, ao estudar profundamente os sistema educativo francês, Bourdieu concluiu que a escola em vez de ter um papel transformador, ela reproduz e reforça as desigualdades sociais.
Na perspectiva do autor, a cultura escolar não é neutra, ela reproduz a cultura da classe social dominante. Toda a estrutura curricular, plano de estudos, é pensada de acordo com a cultura das classes socialmente favorecidas. Daí que haja cada vez mais desigualdades, pois quanto menor é a distância entre a cultura do aluno e a cultura que é ensinada na escola, maior é o sucesso dos alunos.
A recente publicação do ranking das escolas vem exatamente confirmar a teoria da reprodução cultural, pois as escolas com melhores resultados, salvo raras exceções, são aquelas frequentadas por alunos cujo capital cultural se sobrepõe ao dos alunos da maioria das escolas públicas.
Ao analisar atentamente os resultados, verificamos que os melhores ocorrem em escolas frequentadas por alunos cuja condição social está fortemente relacionada com os resultados, pelo que, quanto maior for o perfil socioeconómico, melhores resultados são esperados.
Por isso, do meu ponto de vista, comparar resultados baseados num único critério, exame nacional, colocando todos os alunos nas mesmas condições é como comparar a melhor equipa de futebol do mundo com uma equipa amadora de uma qualquer região do país. Não podemos, de maneira nenhuma, cair no erro de comparar colégios privados com escolas públicas.
Os colégios privados são, na sua maioria, frequentados por filhos da classe média e média alta, possuidores, à partida, de um capital cultural que os coloca logo numa posição superior. Além da posição social, é também feita uma seleção bastante criteriosa desses mesmos alunos. Todos temos a consciência de que um aluno, mesmo filho da classe média ou média alta, se for mau aluno, desmotivado e indisciplinado, à partida, não entrará num colégio privado.
Portanto, não podemos comparar o incomparável. O próprio Ministério da Educação, pela voz do secretário de Estado da Educação, João Costa, referiu o seguinte “ tenho dito várias vezes que os rankings não dizem rigorosamente nada sobre a qualidade da escola”. O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, manifesta opinião semelhante referindo “ Não sou adepto destas listas e continuo a manter a minha opinião porque sei que o bom trabalho que se faz nas escolas vai muito além disso”.
As escolas públicas, ao contrário das privadas, têm uma responsabilidade social, são escolas inclusivas que procuram responder a todos os alunos, independentemente das suas condições. Fazem um trabalho interno que, na maioria das vezes, não é visto nem valorizado.
A escola pública não seleciona alunos para obter bons resultados nos exames, ela deve orientar o seu projeto educativo no sentido de acolher todos os alunos e dar resposta satisfatória a todos eles, independentemente dos contextos familiares.
Para concluir, Bourdieu refere que se os planos de estudos estivessem mais próximos da maioria dos alunos, seria bem provável que os bons alunos e os indisciplinados fossem outros. Portanto, devemos olhar para o ranking como um indicador do que se passa nas escolas, eventualmente melhorar alguns aspetos, mas nada mais do que isso.