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PATRÍCIA MATOS EM ENTREVISTA

Patrícia Matos

«Entrei por este corredor, hoje, pela última vez.

O ‘Diário da manhã’ desta 6a feira foi o último programa que apresentei na TVI.

10 anos a acordar cedo, convosco, e antes a fazer tantas coisas. Percebi cedo que as pessoas só precisam de um sorriso. De manhã, principalmente. Tentei sempre dar-vos o meu, sei que consegui (quase) sempre. No fim, quero que saibam que todos os dias bebi a vossa energia, a vossa companhia foi essencial para continuar a viver, literalmente. Acordar antes das 4h da manhã foi ‘O’ desafio da minha vida. Fomos 1os e fomos 2os. Fomos o que conseguimos ser. Nada disto seria possível sem a equipa absolutamente fabulosa que encontrei: José Manuel Santos, Catarina Fonseca, Carmen Fialho, Patrícia Batista, Alda Martins, Maria João Clara, Ana Gomes.

Estou profundamente grata por todas as oportunidades que tive ao longo de 13 anos nesta MINHA, NOSSA, VOSSA TVI.

Levo todos no meu coração, mas a mudança faz bem. Mais, faz falta. Uns estarão a pensar que sou louca, outros estarão surpreendidos e até chocados. Os destemidos pensarão que sou corajosa. Estão todos certos.

Se é para sempre? Não sei. O futuro não me pertence mas o presente, sim. No presente digo-vos que vou abraçar outro projeto, fora da televisão.

Tenham saudades minhas por que também vou ter saudades vossas.

Termino com a frase que mais repeti ao longo destes anos: Acordem com o Diário da Manhã, todos os dias, às 6h30. Bom dia… boa 6a feira!»

Patrícia Matos deixa a TVI, ao fim de 13 anos.

Recuperamos uma entrevista dada pela jornalista ao Blogue «À conversa com Ricardo Pinto», em maio de 2011.

A Patrícia é ribatejana. Como foi crescer nessa zona do país?

Sim, sou ribatejana, natural de Santa Margarida da Coutada, a Sta. Margarida do Campo Militar. Vivi lá até aos meus 12 anos. Depois mudei para o concelho de Abrantes. Como já é Médio Tejo, já não é uma paisagem composta apenas de planícies. Crescer ali foi maravilhoso, das melhores coisas que tive na vida. Lembro-me de correr os cabeços com o meu pai à procura de um pinheiro que servisse como árvore de Natal, do cheiro da terra molhada e dos regressos a casa depois da escola. Éramos poucos miúdos e eu sou filha única, era sempre uma festa.

Com que idade aprende a ler? Lembra-se da sua professora primária. Como era ela?

Não recordo a idade, mas sei que aprendi a ler muito cedo. Lia bem, não me enganava, fazia bem as pontuações, os meus primos achavam o máximo e a minha mãe não se cansava de me gabar. Tive duas professoras, na primária. Uma delas, a Dna. Justina, já tinha sido professora dos meus pais. Rigorosa! A prof. Glória era também muito exigente. Tinham ambas imenso trabalho comigo… era danada para a conversa!

Qual a história de encantar que marcou a sua infância?

Nunca me deixei levar por histórias de encantar, a sério. Lembro-me que gostava muito do Peter Pan, mas acho que não se pode chamar uma história de encantar…! Aquela fantasia da Terra do Nunca fascinava-me muito. Acho que todos queremos a ‘nossa’ terra do nunca. Não um sítio onde sejamos sempre crianças… mas o nosso mundo. E era isso que me entusiasmava- um mundo, uma ‘terra’ como eu queria!

Com que idade se apercebe que gostaria de ser jornalista?

Quando era miúda queria ser professora de inglês. Comecei cedo a estudar a língua e estava convencida que tinha futuro! Depois cresci, descobri outras coisas. A minha mãe tinha um amigo locutor de rádio que me disse que tinha uma boa voz. Nem fiz caso. Rádio? Que disparate! O ‘disparate’ virou caso sério. Comecei a fazer rádio por carolice aos 12 anos, numa rádio local. Depois, só depois, surge a paixão pelo jornalismo. Sempre na rádio, fiz programas de autor e noticiários… até entrar na faculdade. Depois o tempo escasseou… e apareceu a televisão!

Quem eram os seus jornalistas de referência durante a sua adolescência?

Lembro-me do José Rodrigues dos Santos, da Judite de Sousa, do Mário Crespo, a Luísa Fernandes, a Paula Magalhães, o Carlos Fino. A imagem, o rigor, deixavam-me nervosa e entusiasmada ao mesmo tempo. Mas eu era mais rádio… o fascínio das vozes: o Sena Santos, o Adelino Gomes e, noutra vertente, dois Antónios: o Macedo e o Sala.

Onde se forma como jornalista?

Estudei no Instituto Politécnico de Portalegre, formei-me em Jornalismo e comunicação. Eu e mais uns quantos colegas provámos que é possível vingar no mundo profissional. Sem falsas modéstias. Lembro-me de alguém me perguntar se era ‘o Portalegre do Alentejo?’. Era, pois era. O curso deixou-nos muito preparados, mas claro que só a prática nos dá tudo. Sentimo-nos muito orgulhosos por ter chegado a uma redação e saber escrever uma notícia. Não temos poderes mágicos mas sabemos que a realidade é bem diferente. Ainda durante o curso estagiei na Antena 1 e TVI e passei por 2 empresas de comunicação.

Recentemente, terminou o seu doutoramento na área da Ciência Política

Qual foram os seus primeiros trabalhos no jornalismo?

Na rádio foram vários, não me lembro. Depois de terminar o estágio trabalhei numa empresa de comunicação que tinha vários projetos de publicações: saúde, desporto, académica. Como estive no desporto, na Antena 1, estava mais confortável na área. Depois, passei por outra agência de comunicação onde escrevi sobre saúde. Essa foi uma área em que trabalhei bastante na TVI. Sei que no meu 2º dia de estágio em Queluz fui para o aeroporto com o repórter de imagem, esperar o corpo de um português morto no Brasil. Dramático. Agosto. Horas a fio. Sol insuportável. Resistimos!

Lembra-se ainda do seu primeiro direto em TV?

Lembro. O 1º direto aconteceu exatamente um ano depois de ter entrado para a TVI pela primeira vez, nessa altura ainda enquanto estagiária. Foi um direto de um incêndio no Belas Clube de Campo. Foi no Jornal Nacional, ainda não havia TVI 24. Acho que não correu mal… No estúdio, foi no dia 28 de fevereiro de 2009, o TVI Jornal, às 14h.

Pivô ou repórter?

Jornalista! Sempre! Enquanto jornalista preciso muito procurar, escrever e contar. Não faz sentido ficar só à espera que as notícias venham ter connosco para as comunicarmos. Faz sentido sermos nós a contá-las. E, de resto, um bom pivot é aquele que conhece a história e a História. Que já esteve nos locais e sabe do que fala. E para isso é preciso trabalhar todos os dias. Informar e ser informado. Nada cai no colo. Não há sucesso sem trabalho. O estúdio dá-nos a postura que precisamos ter na rua, ensina-nos a ser disciplinados e mais formais. Hoje os pivots já são jornalistas e não vamos ser hipócritas: toda a gente sonha com o lugar de pivot. Eu também sonhava mas mais nunca pensei que fosse uma realidade tão próxima!! Tenho um amigo que diz ‘hei-de estar a passar a rua, de bengala, e os meus olhos vão andar à roda à procura de uma história’. Nada mais certo!

Como foi dar a conhecer aos telespectadores a residência oficial do Presidente da República?

Foi um trabalho muito engraçado. Um formato diferente, que apresentámos no Diário da Manhã. Pessoalmente, já conhecia o Palácio de Belém mas foi uma visita muito particular e muito agradável! Encontramos sempre coisas novas!

Lembra-se de alguma situação caricata em TV?

Várias… os realizadores esperam pelo final do jornal ou pela meteorologia para ‘aliviar um bocadinho’ e essas alturas são complicadas de gerir!! Eu consigo, mas nem sempre é fácil, há toda uma equipa a rir e nós temos de aguentar! São períodos muito longos, a concentração é máxima e há sempre qualquer coisa que falha. Lembro-me de ter um editor a cantar os parabéns no meu auricular, durante o jornal, um assistente debaixo da mesa porque houve uma falha técnica, de ter trocado de camisa no meio do estúdio.

Para si, o que é ser jornalista?

É levantar pedras, mexer em papéis, acordar pessoas, fazer perguntas incómodas e não esperar as respostas. É respirar fundo, dormir nos intervalos do trabalho. É superar-se todos os dias, procurar mais, fazer melhor e ir mais além para contar aquilo que as pessoas ainda não sabem. Ensinaram há muito tempo que, independentemente do interesse que representam, todas as histórias são dignas e merecem, por isso, ser bem contadas.

Acredito que ser jornalista é quase como ser mãe: não ter horas, estar sempre disponível, sempre à procura do melhor momento e ter sempre uma palavra preparada. Na crónica do 2º aniversário do jornal ‘i’, Hugo Gonçalves dizia que «não é a mesma coisa ser jornalista e ser eletricista. (…) Ninguém percebe de fusíveis e no entanto toda a gente comenta notícias. Ser jornalista é mais que um ofício, é uma tirania quase escolhe.” Ser jornalista é difícil, mas não trocava esta vida por nada!

Patrícia Matos substituiu Manuela Moura Guedes no último Jornal Nacional de 6.ª.

4 de setembro de 2009. Que horas eram quando soube que seria a Patrícia a apresentar o Jornal Nacional de 6.ª, que até então tinha Manuela Moura Guedes na sua condução?

Nunca falei sobre este assunto. Já passaram quase 2 anos, já há algum distanciamento. Mas esta vai a ser a única vez. Sem me alongar… temos de recuar um dia. Soube no final do dia 3 de setembro.

Por quem soube que seria pivô nesse dia?

Fui convidada pela Manuela Moura Guedes. Perguntou-me se apresentava o jornal. Disse que sim. Fui convidada, não obrigada. Ao contrário do que se disse na altura.

Que misto de sensações a rodearam nesse momento e mais tarde às 20 horas em ponto, quando sabia que muitos portugueses queriam saber o que iria acontecer?

Aconteceu tanta coisa nesses dias que nem sei o que senti. Foi uma tarde muito complicada. Nervosismo, obviamente, e grande responsabilidade. O país inteiro estaria a ver o jornal naquele dia e a razão não era, naturalmente, por ser eu a apresentar.

Teve a oportunidade de falar com Manuela Moura Guedes após a apresentação do jornal?

Sim, falámos. A equipa do JN 6ªfeira estava à minha espera à porta do estúdio. A Manuela agradeceu o meu trabalho e eu agradeci o voto de confiança.

Como vê o TVI 24 no mundo do jornalismo?

Como uma potência emergente, assim como uma economia poderosa! Conheço bem o canal, ajudei ao nascimento. Está a dar passos pequenos, mas sólidos e isso é o mais importante. Saímos em último lugar: lutamos contra o hábito, a História mas não desistimos, nunca! 2011 vai ser o ano do TVI 24.

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