Antónia Henriques e Márcio Machado

Dia das mentiras, 1 de abril. Foi neste dia, através de uma reunião geral, que nos foi lançado o desafio de lecionar aulas através da televisão. Até parecia mentira!
Nem sabíamos o que nos esperava, mas dissemos prontamente que sim. Foi aqui que ficámos a saber qual a disciplina que íamos lecionar, o coordenador do grupo (professor Márcio) e os outros elementos do grupo (Antónia Henriques, Sónia Henriques, Anabela Laranjeira e Susana Oliveira). Neste momento iniciámos um caminho árduo, trabalhoso e cansativo, mas, ao mesmo tempo, desafiante e motivador.

Recebemos da DGE os conteúdos para as primeiras cinco aulas e pusemos mãos à obra.
Com os temas definidos, o grupo organizou-se de forma a cumprir o curto espaço de tempo para preparação das aulas. Devido ao confinamento, decidimos que nós (professor Márcio Machado e professora Antónia Henriques) e a professora Sónia Henriques reuniríamos na escola diariamente e que a professora Anabela Laranjeira e a professora Susana Oliveira trabalhariam a partir de casa, através de videoconferência, deslocando-se à escola apenas quando necessário. Não tínhamos noção da quantidade de recursos que podíamos utilizar para trinta minutos de aula. Foram tempos difíceis. O que fazer para tornar as aulas interessantes e motivadoras, de fácil perceção, para chegar aos alunos que só tinham possibilidade de fazer as suas aprendizagens através da televisão?

Como no primeiro ciclo, as aprendizagens feitas de forma lúdica têm um maior impacto, resolvemos arranjar uns bonecos que representassem os alunos que nós não tínhamos nas aulas e, ao mesmo tempo, que colocassem desafios e questões que ajudavam no desenrolar das aulas. Foi assim que apareceram o Miro e a Mirita, prontamente feitos pela Assistente técnica Nela Cordeiro. Os nomes estão relacionados com o nome Casimiro, pois o nosso Agrupamento chama-se Fernando Casimiro Pereira da Silva. Os bonecos foram uma boa aposta pois marcaram de tal maneira as nossas aulas, que já ninguém nos chamava por Márcio e Antónia, mas sim por Miro e Mirita, os Miritos.

Pelas indicações que nos deram, apenas um elemento do grupo deveria ser o pivot, pois estávamos em confinamento e assim evitávamos o contacto com muitas pessoas. Por maioria, ficou decidido que o pivot seria o professor Márcio, pois não precisava de cabeleireiro nem maquilhagem.

No início foi-nos dito que seria tudo gravado na escola e não teríamos de fazer deslocações, mas depois a RTP informou que não seria viável pois envolveria muita gente, o que não era recomendável. O grupo decidiu que ninguém iria sozinho fazer as gravações a Lisboa, tendo logo a professora Antónia sido escolhida para esse papel. O stress, o nervosismo e toda esta nova envolvência seria melhor ultrapassada com o apoio de uma cara conhecida.

A primeira gravação foi a 9 de abril. Lá fomos diretos a Lisboa, depois de uma noite mal dormida, iniciar-nos nesta grande aventura do #EstudoEmCasa. Neste dia iam ser gravadas as duas primeiras aulas de trinta minutos cada, onde não haveriam cortes nem edição. Os temas destas aulas foram: “Horários” e “Dobro, Metade, Triplo e Terça parte”, cujo o conteúdo foi previamente enviado para aprovação pela DGE e ensaiado na manhã da gravação, para que tudo corresse bem.

Se há equipas que facilitam o trabalho, uma delas é a Freemantle. A equipa de gravação que nos acompanhou em todas as filmagens foi incansável no apoio desde o primeiro dia. À chegada ao estúdio tínhamos também o diretor da RTP Memória, que nos tentou tranquilizar e passar uma palavras amigas.

Depois de algum atraso, próprio do primeiro dia de gravações com professores novatos nestas andanças, chegou a hora de eu (Márcio) ir para a frente das câmaras. Até as pernas tremiam. Enquanto que no ensaio correu tudo bem, tendo o timing da aula corrido normalmente, a gravação da primeira aula não correu como esperado. O stress apoderou-se e a gravação teve de parar a cinco minutos do fim. A falta de conhecimento e improviso fez falta naquele momento. Após uma pausa, conseguimos concluir esta aula. A segunda desse dia já correu melhor. Eram 23h da noite quando saímos do estúdio e as gravações ainda iam continuar com o grupo de educação física.

Após as primeiras gravações, a DGE sugeriu que as aulas seriam mais dinâmicas com dois professores a lecionar as aulas. Assim, mudámos a dinâmica nesse sentido. Passámos a ser dois na frente das câmaras. As duas primeiras aulas foram regravadas no dia 15 de abril, tendo corrido tudo bem. A partir daqui gravámos duas aulas, semanalmente, até ao dia 17 de junho.

Cada gravação era antecedida de dias com muito trabalho, para todos os elementos do grupo. Deixámos de ter horário de trabalho e fins de semana. Tínhamos várias reuniões, por videoconferência, com a DGE, para organizar os conteúdos. Para além deste trabalho de preparação das aulas, todos os envolvidos tinham as suas turmas, a quem tinham que continuar a dar o apoio diário na organização das tarefas semanais, retirando dúvidas através de sessões síncronas e assíncronas, na correção dos trabalhos e mantendo o contacto possível, de forma a diminuir o impacto que as medidas de confinamento trouxeram aos nossos alunos e suas famílias.

A trabalhar connosco, na multimédia, tínhamos os professores Mário Figueiredo e Tiago Ribeiro, pois tivemos necessidade de criar os nossos próprios recursos, áudio e vídeo, de forma a adequar a linguagem às necessidades dos alunos e enriquecer as nossas aulas. Eles foram os responsáveis pela criação da maioria dos recursos apresentados na televisão. Como eles também eram solicitados por outros grupos, a professora Sónia começou também a gravar e editar vídeos.

As professoras Anabela e Susana deslocaram-se à escola para fazer várias gravações, de acordo com os temas das aulas e também foram responsáveis por realizar a maior parte das pesquisas sobre os conteúdos a trabalhar.
Para além das gravações das aulas, também elaborávamos os PowerPoint (professor Márcio) e os guiões de apoio às aulas (professora Antónia).
Todas as nossas aulas terminavam com um desafio para casa que era resolvido no início da aula seguinte. Nas redes sociais verificámos que esses desafios eram resolvidos pelas crianças e que tinham bastante adesão. Foi motivador verificar que as aulas entravam em casa das pessoas e que conseguiram envolver várias gerações.
Foi uma experiência única e com bastantes aprendizagens. Esperamos que o nosso dia a dia volte à normalidade e que os nossos alunos nos encontrem na sala de aula, pois é aí que todos devemos estar. Já temos saudades deles!