Joana Benzinho
À terça-feira, sempre que possível, paro naquele restaurante para comer um Caldo de mancarra. Este prato típico guineense junta o delicioso amendoim produzido no país a tudo o que se quiser. Frango, legumes, cabra ou carne de vaca, quando bafejados por este molho, ficam de comer e chorar por mais. Uma das vezes, cheguei lá já a hora de almoço tinha passado para muitos e perguntei se tinham o prato do dia. Tivemos sorte, ainda havia caldo de mancarra. Pedimos duas doses, que a minha companhia também é apreciadora da boa comida da terra. Lá veio o arroz a fazer do prato uma única e enorme montanha e ao lado, o famoso caldo de mancarra com carne de vaca. O molho estava irrepreensível mas, depois de muito procurar, só encontrava ossos no prato que acompanhava o arroz. Perguntei ao simpático rapaz que lá trabalha se podia trazer um pouco mais de carne. Disse-me que acabara, tinha ido toda para o prato do meus comensal, mas prometia que da próxima vez que lá voltasse também teria no meu prato a carne prometida no cardápio. Saiu-lhe sem mácula de culpa, sem ponta de atrapalhação. Não havia o prato todo que eu pedi mas havia a parte mais importante, o molho, que com o arroz é muitas vezes o prato de muitas famílias guineenses.
Ri-me com o insólito da situação. Aliás, rimo-nos os três. Eu, o meu comensal e o simpático rapaz.
Depois deste episódio, regressei lá muitas terças-feiras e com um sorriso de orelha a orelha o jovem aborda-me sempre com um ar orgulhoso a apontar para os nacos de carne que nunca mais me faltaram.
Este episódio passou-se na Samaritana. É um daqueles restaurantes de Bissau que apesar de pequeno e simples, oferece o que de melhor há na gastronomia guineense. Aqui come-se, para além deste meu capricho dos deuses em forma de amendoim, a mais autêntica cafriela, frita com galinha da terra (mais dura e fibrosa que a galinha normal mas com um gosto único) ou as mais saborosas batatas fritas da cidade. Aqui todos os pratos chegam à mesa bafejada pelas ventoinhas acompanhados de bebidas sempre geladinhas quem ali e têm por companhia uma televisão algumas vezes mal sintonizada mas com o som no máximo, seja para ver o jornal da tarde na RTP África ou os filmes que ali chegam por satélite.
Porque a gastronomia também é cultura, identidade e tradição esta crónica fala do que de bom se come na Guiné-Bissau e deixa a sugestão de uma visita a quem passar perto do mercado de artesanato dos Coqueiros, em Bissau. Vale mesmo a pena