Joana Benzinho
Em Pecixe a maré baixa afasta o mar algumas centenas de metro do extenso areal. Nessa altura, as dunas que separam as bolanhas do mar ficam ali, isoladas a demonstrar toda a sua beleza até à preia mar. É nessa altura que a população vem até à praia. Eles, de pau de ponta afiada para a faina à mão, que por ali as pirogas não abundam. Lá ao fundo, onde batem as ondas da maré baixa estão as tradicionais armadilhas de paus onde os peixes ficam barricados com a partida das águas . Às vezes conseguem peixe graúdo e esse vem espetado na ponta do pau, um verdadeiro troféu que levam até casa.
As mulheres e meninas chegam à praia de baldes e alguidares à cabeça, numa verdadeira algaraviada que se mistura com o cantar das aves que por ali poisam nos tarrafes.
No meio da lama, olham fixamente o chão e à primeira bolha de ar que vislumbram mexem elegantemente o pé na areia e deixam à vista enormes combés, moluscos muito idênticos ao berbigão e que são uma das maravilhosas iguarias da cultura gastronómica guineense.
Enchem em pouco tempo os baldes e alguidares que carregam à cabeça de regresso a casa.
Nesta ilha, longe de tudo e de todos moram 6500 pessoas que vivem diariamente destas rotinas de intimidade com o mar a que juntam uma agricultura de subsistência assente no arroz, no amendoim ou feijão.
A modernidade fica-lhes longe, por vezes inalcançável. Mas têm o que de mais precioso a humanidade guarda. A convivência sã com a natureza, o respeito pela biodiversidade e a suprema beleza desta ilha a que chamam de lar.