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Cultura, Literatura e Filosofia

O VERÃO DO NOSSO DESCONFINAMENTO

Soni Esteves

Hoje apetece-me brincar com as palavras. Na verdade, apetece-me muitas vezes, mas as férias parecem-me o tempo perfeito para o fazer. Peguei em títulos de canções, de filmes, de livros, e com eles compus um texto. Descobrir os autores fica por vossa conta, se acharem que vale a pena a brincadeira. A ideia não é original, nem nova, mas nem por isso deixa de ser divertida. Espero que não me acusem de plágio!

Após termos vivido O inverno do nosso descontentamento, E depois do adeus à pandemia, já todos percebemos que este não será Aquele querido mês de Agosto, nem tão-pouco O verão azul das nossas memórias.

Ninguém conseguiu antever como este acelerado Contágio iria interromper La dolce vita que levávamos, fazendo-nos recordar A peste que abalou a europa do século XIV, apesar de esta ser uma das histórias que a humanidade não queria Viver duas vezes.

Julgo que ninguém pode afirmar não se ter sentido, em algum momento,  Frágil e , ao longo dos últimos meses. A nossa casa tornou-se, por esses dias, O nosso reino e muitos terão mesmo vivido O processo sentindo-se Os miseráveis. Para outros, o tempo de confinamento terá tido o peso de Cem anos de solidão.

Lembro-me de Às vezes, pressentir O vento assobiando nas gruas e de me sentir sufocar, porém eram somente Gritos mudos presos no meu Lado lunar a despertar, como se eu fosse, de repente, personagem d’O livro do desassossego.

Trago comigo, A memória dos dias ainda tão presentes, em que assomava à minha Janela indiscreta, e não via senão Os cães da minha rua, a passearem os donos. E pensava “Não sou o único ser neste Mundo ao contrário”.

Depois, eu própria ia passear o meu cão no jardim, uma tela em Alto relevo, e fazia daqueles momentos o espaço poético do meu dia. Percorria aquele Pedaço de chão pleno de vida, a ouvir a Canção do mar no alvoroçar da folhagem e a sentir O perfume da primavera a despontar. E, como se tivesse Todo o tempo do mundo, ali ficava a delinear uma espécie de Dissertação escusada sobre a solidão das árvores.

E assim, como Ilhas na corrente, víamos crescer Os dias pequenos, por detrás do jardim, onde existe um horto que o Tempo condenou, ignorando as Frescas raízes que despontavam, sem a ação castradora d’O fiel jardineiro.

O meu cão, que acha sempre tudo Perto demais, queria ir mais longe, como se A mão do diabo acenasse num chamamento. Às vezes apetecia-me segui-lo e deambular por entre os escombros e Os jardins proibidos que habitam o horto esquecido. Talvez ele procurasse O paraíso na outra esquina. Mas eu via apenas A ruína que é ainda A Casa quieta onde parece habitar A sombra do que fomos.

Lembro-me de regressar a casa, a sentir o peso do silêncio, sabendo que No meu peito não cabem pássaros.  Mas não Há quem não escreva poesia quando se tem Todo este céu que é uma casa onde mora o amor, uma casa onde há gente, e bichos e há livros, mesmo que nenhum traga Instruções para salvar o mundo. E quando não há Música no coração e uma Lágrima se solta, teimosa, a minha gata inunda-me de azul com o olhar, como se me convidasse a entrar Mar adentro e dissesse “Dancemos no mundo”! E eu sinto que Não se pode morrer nos olhos de um gato!

Tento imaginar quanta vida ficou adiada por aqueles dias… Que pensaria A rapariguinha do shopping em lay off, a cada dia que não Saiu para a rua? Quantas Avenidas ficaram por pisar? Quanto Primeiro beijo ficou por cumprir? Quantos Corações periféricos vadiarão, ainda, Em busca do tempo perdido?

Imagino os planos gorados, de Viagens, quem sabe, a um Destino turístico… viver uma história de Sonho e paixão em Apúlia passar por Budapeste e dançar O último tango em Paris… mas Tudo o vento levou! Então percebo que neste Tempo, fazer planos, Não dá! Talvez seja preciso aprender a viver momentos de Guerra e paz, viver n’O fio da navalha, até que O milagre chamado vacina traga A mancha Humana de volta para a luz. Entretanto, eu fico-me pela Viagem a Portugal, sonhando com o dia em que o Número zero seja notícia.

Não espero um Admirável mundo novo, desejo tão só o fim desta funesta Odisseia e, Logo que passe a monção, quero fazer A festa  e poder dizer: Traz outro amigo também!

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