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Cidadania e Sociedade

O ACASO NÃO ESCOLHE, PROPÕE

Sandra Coelhoso

Saramago fez História e proclamou: «O acaso não escolhe, propõe.».

“A memória de um Império do século XV ao século XX”| Aula 1 “Da Expansão Marítima do século XV à manutenção do Império Colonial no século XX”| Aula 2

O meu percurso no afamado projeto #EstudoEmCasa foi, sem dúvida, um acaso furtuito e um desafio superado.

A história que convosco partilho surgiu de um apelo irrefutável, pelo meio Atlântico, num momento em que o Mundo fazia História.

Contrariando a habitual aurora primaveril, abril anunciou aquele que até hoje terá sido o nosso maior Desassossego: viver em contexto de pandemia.

O 25 de Abril| Aula 3 A ação de D. João II e o governo autoritário de Salazar”| Aula 4

Entre as inquietações que a todos nos assolaram, governei-me pelo propósito educativo de proporcionar a crianças e jovens a oportunidade de serem orientados no seu percurso de aprendizagem.

Sou natural de Mirandela, em Trás-os-Montes e, apesar de viver na margem sul há alguns anos, é lá que tenho toda a minha família, incluindo dois sobrinhos em idade escolar. Vivem os dois numa aldeia típica de Trás-os-Montes, os Cortiços, e, tal como a maioria das crianças que vive em zonas isoladas, também eles iriam precisar da televisão para continuarem a ter acesso a um dos direitos fundamentais, o Direito à Educação.

| Aula 5 | Aula 6

Em verdade, talvez esta tenha sido a principal influência na minha tomada de decisão ao participar em tão nobre projeto. Por eles, os meus sobrinhos, e por todas as outras crianças que como eles precisam de nós, professores.

Muni-me das ferramentas pedagógicas que habitualmente disponho, das orientações dadas pela Direção Geral de Educação e do contributo dado por colegas que nos bastidores do ‘grande palco’ me foram apoiando.

O contacto de portugueses com diferentes povos e culturas| Aula 7 Avanços e recuos científicos, culturais e sociais entre os séculos XVI e XX| Aula 8

Numa batalha contra o tempo, apreensiva às câmaras e às críticas que inevitavelmente iriam surgir, planifiquei diferentes sequências de aprendizagens, com aulas dirigidas a alunos do 2º ciclo, na disciplina de História e Geografia de Portugal.

Se foi fácil? Não. Nada foi fácil neste percurso. Como referiu um dia Winston Churchill num dos seus discursos «É inútil dizer “estamos a fazer o possível”. Precisamos fazer o que é necessário.».

Tínhamos de relacionar conteúdos díspares do 5.º e 6.º anos, escolher os temas para as aulas e redigir pormenorizadamente a planificação, o guião que sustentava a nossa ‘atuação’.

Direito à diferença e à independência| Aula 9 A luta pela independência a crise de sucessão no século XVI e a Guerra Colonial no século XX)| Aula 10

A chegada ao estúdio da RTP num dia chuvoso e tempestivo indiciava um turbilhão de sobressaltos, superados num esforço conjunto, porque o confinamento e as restrições assim o impunham.

Sabia que não podia falhar. Não havia tempo para repetições, nem ensaios, nem tão pouco para a habitual produção, a que todos estamos habituados, quando pensamos em momentos televisivos. À minha frente não estavam os meus alunos. Tinha duas câmaras e um perpétuo silêncio. Este foi, sem dúvida, o grande constrangimento que vislumbrei neste desafio!

Revoluções A Restauração da independência em 1640 e 25 de abril em 1974| Aula 11 Independência| Aula 12

Onde estavam as crianças? Onde estavam os braços no ar? Onde estavam os sorrisos e as brincadeiras? Nas minhas aulas de História giro a curiosidade espontânea e delicio-me com os olhares cúmplices e os sorrisos iluminados dos alunos. Mas ali só havia silêncio! A escola só faz sentido na sua vertente humana e ali não os tinha presentes. Estavam comigo no pensamento. Acordámos que, durante aquela temporada, o nosso reencontro estava confinado ao pequeno ecrã!

A importância do #EstudoEmCasa foi muito além do expectável. Uniu gerações, encurtou distâncias, quebrou temporariamente o isolamento, desfez a solidão. Como comentava o meu avô “hoje já estiveste cá em casa!”. E através da ‘caixinha mágica’ foi possível reviver e reforçar aprendizagens há muito esquecidas, desencadear conversas e até algumas discussões.

E depois das revoluções?| Aula 13 A sociedade nos séculos XVI e no Século XXI Aula 14

No início desta aventura tive o privilégio de ter ao meu lado, no palco principal, dois colegas. Primeiramente, a minha ‘comadre’, a professora Sofia Almeida, e, mais tarde, surgiu também o contributo do colega Luís Almeida.

A evolução das atividades económicas no século XVI e século XX| Aula 15 O quotidiano – no período da expansão e na atualidade| Aula 16

A partir da oitava aula fiquei sozinha em frente ao ecrã, no entanto, na verdade, nunca estive sozinha. No estúdio tive sempre ao meu lado a equipa da Fremantle. Nos intervalos de cinco minutos entre as duas aulas ouvia palavras de motivação, ouvia sorrisos. Em casa, tive sempre presente a orientadora da Direção Geral da Educação, que comigo trabalhou e que tanto me encorajou. A ela, só tenho de agradecer.

A arte e o lazer| Aula 17 Vamos ver o que sei fazer no final do ano?| Aula 18

Reconheço com especial apreço a atitude entusiasta dos meus alunos, a compreensão dos Encarregados de Educação, o amparo dos meus colegas e da Direção do Colégio Atlântico e à minha família, ponto vital da minha existência. Dirijo a todos um sincero agradecimento.

Deste projeto, levo comigo a experiência, os novos amigos, o sentimento de dever cumprido e a certeza que a maioria dos nossos alunos tiveram a oportunidade de continuar a aprender.

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