José Castro
Cada vez mais nos tempos de hoje se fala e exige caridade. Infelizmente, a prática da caridade é frequentemente um ato de vaidade por quem a pratica e humilhante para quem a recebe. Isso deve-se ao facto deste conceito estar frequentemente associado à ajuda material a quem é desfavorecido! Essa caridade assistencial jamais deveria ser necessária num país que se diz democrático e proclama justiça social! A questão não está em acabar com as desigualdades sociais, mas sim diminuir esse intervalo e garantir que todos possam usufruir de uma vida digna com conforto, saúde, acesso à cultura e à justiça. O estado deveria ser o garante desse bem-estar orientando os dinheiros públicos (que pertencem a cada um de nós!) para todos os cidadãos e em especial aos mais desfavorecidos. Que está a acontecer ao “nosso” dinheiro? Como está a ser aplicado? Quem é que está (sempre) a usufruir dele? Seria muito interessante que cada cidadão pudesse escolher para onde gostaria de dirigir os seus impostos! Não se trata de fugir às responsabilidades fiscais, mas sim saber que o “nosso” dinheiro não iria alimentar fortunas, fomentar a corrupção e nem ser dirigido para atividades consideradas não éticas! A correta aplicação dessas verbas que saiem do suor de todos os portugueses é a verdadeira caridade!
A caridade ainda é vista como um ato extraordinário a ser promovido, quando na verdadeira acessão da palavra deveria ser natural em todas as nossas ações. Imanente a qualquer atividade do ser humano deveria estar presente a justiça, o amor e a caridade. Por que razão? Porque justiça sem amor é vingança. Caridade sem amor é vaidade e orgulho. Quando a caridade vem “embrulhada” com o amor e justiça torna a sua prática bem mais profunda e …difícil. Já não é apenas o dar a “esmola” ou um bem (que temos facilidade em comprar). Não que não seja importante, mas é efetivamente o mais fácil para quem tem meios económicos. Todos podemos ir mais longe. Como aplicar a caridade nos relacionamentos profissionais ou pessoais? Quantas “zangas” podem ser diminuídas ou eliminadas com a prática da caridade? Mas esta caridade, caridade “ética” é mais profunda. Esta já não sai do bolso (do exterior) mas do nosso interior e é composta pela benevolência e indulgência para com o próximo acrescentando a capacidade de os perdoar. Mas, tal como na caridade material, que se não tivermos meios económicos não a podemos praticar, nesta, se “interiormente” não tivermos essas “competências” igualmente a não podemos realizar. Contudo, competências de “compaixão” e de “perdão” só podem ser utilizadas para com os outros quando as utilizamos em nós mesmos! Como se costuma dizer “ ninguém dá aquilo que não tem”( pelo menos de forma consciente).
Já imaginaram a prática desta caridade no dia-a-dia? Quanta saúde mental não existiria mais? Quanta violência não existiria a menos?
Em homenagem ao Dia Mundial da Caridade, no próximo dia 5 de setembro comprometa-se a desenvolver essa caridade imbuída de justiça e amor pela sua paz e pela dos outros.