Isabel Madureira
Continuam a verificar-se estereótipos de género no papel da mulher na gestão da vida familiar. Qual será o impacto destas disparidades na conciliação entre vida profissional e familiar?
Os estereótipos são pressupostos ou rótulos sociais, criados sobre as características de grupos para moldar padrões sociais. Eles são reproduzidos culturalmente e, na maior parte das vezes, interferem nas relações sociais. Um exemplo de estereótipo é aquele que se refere, por exemplo, ao género. Constata-se que, desde muito cedo, os
estereótipos de género são reproduzidos na diferença de criação/ educação entre meninos e meninas. Estes estereótipos acompanham-nos durante toda a vida.
Importa, assim, distinguir os conceitos de sexo e de género. Entende-se por sexo, as características que explicam a diferença, em termos biológicos, entre masculino e feminino. Por género, podemos dizer que são as atividades, comportamentos, papéis e atributos socialmente construídos, considerados adequados para homens e mulheres. A par destes dois conceitos, surge também o conceito de igualdade de género que pode ser definido como o tratamento justo, imparcial, incluindo igualdade de tratamento ou tratamento diferenciado para compensar os desequilíbrios nos direitos, obrigações e oportunidades entre homens e mulheres.
Antigamente, homens e mulheres tinham papéis completamente distintos na sociedade. Ao homem cabia o dever de sustentar a família, à mulher o dever de proteger, cuidar da casa, das crianças e de toda a família.
Hoje em dia, este modelo, embora ligeiramente esbatido, continua a perpetuar-se. Embora a mulher desempenhe um papel profissional, continua a ser ela a responsável pela maior parte das tarefas domésticas. O estereótipo de género continua enraizado em Portugal o que tem dificultado a conciliação entre a vida profissional e a vida familiar das mães com emprego por conta de outrem.
A verdade é que as mulheres que desempenham uma atividade profissional, continuam a desempenhar a maioria das tarefas ligadas ao cuidado da casa e dos filhos. Em média, as mulheres trabalham em casa mais 1 hora e 45 minutos por dia do que os homens. Não é menos verdade também que continua a existir uma maior valorização das mulheres que exercem uma atividade profissional e que ao mesmo tempo demonstram uma preocupação com o papel familiar, doméstico e maternal. As mulheres que apenas demonstram interesse pela sua carreira e vida profissional são menos valorizadas. Mas, apesar desta diferença de valorização, o que é facto é que as mulheres trabalham em casa muito mais horas do que os homens.
Atualmente, com a sociedade em plena mudança, torna-se essencial que haja políticas de conciliação trabalho-família. Estas políticas teriam como objetivo primordial diminuir os níveis de stresse e a sobrecarga de trabalho a que as mulheres com filhos estão expostas.
O governo português já se propôs implementar as seguintes medidas de conciliação trabalho-família: criação de serviços de acolhimento a crianças; criação de serviços de prestação de cuidados a idosos; licenças para pais/mães trabalhadoras; flexibilização da organização do trabalho. A verdade é que algumas destas medidas funcionam apenas num número muito restrito de empresas.
Algumas empresas têm demonstrado alguma resistência na implementação destas medidas, mas, sabe-se que elas trariam enormes benefícios quer para as famílias, em particular para as mulheres com filhos, quer para as próprias empresas.
Dos benefícios para os trabalhadores, destacam-se: o aumento do nível da satisfação em ambas as dimensões da sua vida; a melhoria do seu desempenho e produtividade e melhoria da disponibilidade emocional e temporal familiar.
Já para as empresas, os benefícios seriam: o aumento da dedicação e comprometimento por parte dos trabalhadores com o seu trabalho e com a empresa; diminuição dos níveis de absentismo; aumento dos níveis de produtividade; alargamento de potenciais colaboradores da empresa; valorização da imagem das empresas; redução de conflitos laborais.
Para concluir, gostaria apenas de dizer que “o caminho faz-se caminhando” e já houve grandes melhorias, mas continuamos aquém das expectativas. Neste ano, em plena pandemia, as medidas de conciliação trabalho-família seriam ainda mais urgentes, pois todos nós estamos angustiados e ansiosos com a abertura do ano letivo e da generalidade dos serviços.