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Cidadania e Sociedade

ESTE JEITO TÃO ÚNICO DE SER GUINEENSE

Joana Benzinho

A Guiné-Bissau é um país que conta com menos de dois milhões de habitantes mas que tem muita gente sua na diáspora. Sairam por razões diversas mas quase sempre estiveram motivos económicos em cima da mesa no momento da decisão de partir. Vivem espalhados pelo mundo, não se limitaram a Portugal e à comodidade da partilha de uma mesma língua. É fácil cruzá-los no Reino Unido, na Holanda, Luxemburgo, França, Bélgica ou além mar, noutros países em continentes mais longínquos. A particularidade desta diáspora é a paixão com que vive o quotidiano do seu país. Basta privar um pouco com eles para perceber que acompanham a par e passo todas as ambiguidades económicas, sociais e políticas tão endémicas na Guiné. E não raramente têm uma opinião bem consolidada sobre os assuntos e os intervenientes e uma solução de bancada para os problemas. Vivem acaloradamente o país. Choram sem vergonha as saudades. Falam da sua rua, do seu bairro como se estivessem a chegar de viagem mas, se aprofundamos a conversa, percebemos por vezes que não vão à Guiné-Bissau há mais de 30 anos. Muitos fugiram com a Guerra de 98 que destruiu o país, separou famílias, matou gente e roubou sonhos. Vivem a sua Guiné-Bissau cristalizadas nas recordações boas que ela lhes deu. As infâncias quase sempre pobres mas felizes, passadas entre a rua, as brincadeiras e a grande solidariedade familiar e social que caracteriza este povo. Replicam os pratos e sabores da terra, deliciam-se ao evocar o sabor da papaia, da pinha ou das diferentes mangas que a Guiné-Bissau tem. Têm as tradições, os costumes e os usos cravados na alma e no coração. E vivem-nos de forma intensa e permanente.

E como os seus olhos brilham quando surge a possibilidade de voltar! Voltar para umas férias quase sempre curtas para a enormidade das saudades que carregam. As saudades do cheiro da terra, das raizes, dos afectos celebrados num banco em qualquer sombra do poilão, aquela árvore frondosa que dá abrigo às conversas, às refeições partilhadas na grande taça de inox, à cerveja fresquinha ou ao sumo natural bem açucarado que engana a sede provocada pelo intenso calor húmido que lhes entranha o país na pele.
Choram a despedida quase com a mesma intensidade com que se despedem de um ente querido. Porque a Guiné-Bissau é para este povo a mãe, a origem, a raiz a quem devem esta sua maneira tão especial de ser e de estar na vida.

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