Ana Miranda
Terá a alimentação uma ingerência direta sobre o sistema fisiológico e as perturbações psicopatológicas?
Os transtornos mentais são síndromes caraterizadas por perturbações significativas na cognição, regulação emocional ou comportamento dos indivíduos, podendo provocar perdas sociais, familiares e individuais, expressivas. Estes, para serem diagnosticados, terão de preencher um conjunto periódico e recorrente de sinais e sintomas, que permitam identificar com razoável consistência os fatores causais, etiologia e curso de determinados padrões evolutivos e estados típicos.
A alimentação afigura-se determinante na vida do indivíduo, contribuindo de forma manifesta para a prevenção de doenças múltiplas. Como tal, a adoção de padrões alimentares saudáveis diminui o risco de desenvolvimento de perturbações psicopatológicas, estando os sujeitos com carências nutritivas mais propensos ao desencadeamento ou agravamento de distúrbios psíquicos (e.g. Perturbação Depressiva Major).
São numerosos os estudos que sustentam a eficácia da administração via oral do L-triptofano (aminoácido precursor da serotonina), presente no chocolate rico em cacau, mel, banana, queijo, amendoim, castanha de caju, amêndoa, frango, ovo, ervilha, pescada, couve-flor e batata; do ómega 3, que pode ser encontrado no salmão, no atum, na sardinha, no arenque, nas nozes, na soja, na linhaça e na chia, por exemplo; do magnésio, presente nas sementes de abóbora, gergelim e linhaça, amêndoas, aveia e espinafre cozido, entre outros; e de vitaminas do complexo B (e.g., gérmen de trigo), na redução dos sintomas de ansiedade e restabelecimento do bem-estar. A vitamina B12, existente no bife de fígado, mexilhão, caranguejo, atum, polvo, ovos e leite, desempenha uma função crucial ao nível dos sistemas nervoso central e periférico, prevenindo declínios cognitivos/demências e acidentes vasculares cerebrais. Os probióticos, encontrados em iogurtes, queijos e pickles, assim como os espargos, também se revelam fortes aliados no combate à sintomatologia ansiosa, segundo os mais adestrados. A canela, o abacate, a lentilha e o chá verde são, igualmente, apontados como super-alimentos, potenciadores da boa disposição.
Em contraponto, a ingestão de produtos industrializados, agremiada ao sedentarismo despoletado pela globalização, amplifica o quadro depressivo e ansioso, antecipando a senescência. A gordura trans, ao ser processada, diminui a atividade neurológica do indivíduo, aumentando os seus níveis de stress. O álcool e os alimentos cafeinados são, igualmente, desaconselhados, nas diagnoses de perturbação de humor.
Aparentemente, a Nutrição e a Psicologia apresentam mesteres muito diferentes, ainda que, a bom rigor, se consubstanciem.
Uma alimentação funcional é um suporte inexorável para um melhor prognóstico dos transtornos mentais, reduzindo os sintomas da doença e melhorando o humor. Não obstante e, apesar do seu contributo evidente na escala de ânimo, não é, por si mesma, responsável pela extirpação e bloqueio das perturbações supracitadas, funcionando como uma proteção parcial. O estado de humor é sugestionado por fatores clínicos e sociais, pelo que o acompanhamento psicológico (e psiquiátrico, quando indispensável) se apresenta como o baluarte para a debelação da psicopatologia.
Ana Miranda
Psicóloga – Clínica Osvaldo Moutinho