José Castro
Comemorou-se na semana passa o dia Mundial da Prevenção do Suicídio. Dizem alguns dados estatísticos que a nível global a cada 40 segundos ocorre um suicídio. Igualmente um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) refere que nos países de elevado rendimento económico, a taxa de suicídio é três vezes superior à dos países de médio ou baixo rendimentos. Estas informações são em pleno séc. XXI chocantes. A somar a tudo isto a pandemia veio tornar-se um fator de risco de suicidio pelas consequências socias e económicas que acarreta.
O suicídio tem lógica? Claro que sim. Todo o ser senciente se afasta daquilo que lhe causa dor. É pois um processo instintivo. O suicídio é pois, em primeira análise, a fuga a uma situação indesejada que implica sofrimento intenso. Provavelmente, nem é posto em causa a questão de terminar a vida, mas sim a de terminar o sofrimento físico ou psicológico profundamente sentido. Prefiro não existir, a existir preso a estas condições, muitas vezes irreversíveis. É pois, numa análise primária, uma ação lógica do ser humano.
Mais complexa fica a explicação para taxas de suicídio elevadas em classes sociais bem-sucedidas. Curiosamente, Viktor Frankl, chegou a essa mesma conclusão. Ele, como prisioneiro nº 119104, que viveu os horrores do campo de concentração de Auschwitz, constatou que a taxa de suicídio no campo de concentração era menor que a taxa de suicidio de jovens bem- sucedidos nos EUA. Não deixa de ser algo paradoxal, que o ser humano elimine a vida por sofrer ou não ter condições dignas de vida e também por estar bem de saúde e ter acesso a todos os bens materiais e índices de conforto. Neste último caso, prevalece um outro tipo de sofrimento que independe das condições exteriores, a sensação de infelicidade. Afinal, consigo comprar tudo …menos felicidade. Esse “vazio existencial” é pois um elevado fator de risco de suicídio.
Perante esta sumária explanação importa responder à célebre questão: O suicídio é um ato de coragem ou covardia?
A resposta, seja ela qual for, será sempre válida quando está em sintonia com o “mapa mental” do autor. Mas podemos ir algo mais longe. Falar de suicídio implica falar de morte, eliminação da vida física. E mais uma pergunta intemporal surge: Existe algo para além da vida (biológica)?
Da resposta a esta questão é fácil responder à questão anterior. Se nada mais há, se a “cosmovisão” do ser que se suicida é o materialismo, então poderá ser um ato de coragem.
Se a vida se extingue mas a existência do ser continua, ou seja, se a “cosmovisão” do ser que se suicida é “espiritualista” então poderá ser um ato de covardia.
Que fazer? Analisar as suas crenças? Consegue que a sua crença passe ao crivo da razão? Quais os fundamentos científicos para a mesma? Qual a explicação lógica da sua crença face aos seus grandes dilemas da sua vida? Questione se ela consegue-lhe dar paz, sentido e propósito de vida.
Assim, antes da prática de um ato irreversível, do qual nada sabe, procure inteirar-se sobre o assunto. Estude diferentes propostas e veja aquela que lhe permite ir mais longe…dentro de si!
Poderá, contestar que nenhuma é a verdadeira. Mesmo assim, sinta-se com liberdade de escolher a crença que o faz efetivamente mais feliz e ativo na partilha de sua felicidade.
Assim, e por curiosidade Viktor Frankl criou a logoterapia que inclui o fator espiritual! Evidências científicas dizem que todos aqueles que desenvolvem coping religioso/espiritual conseguem uma resiliência superior para ultrapassar com mais sucesso os alegados “azares da vida”!
Terminar, trazendo uma provocação: provavelmente quem melhor sabe de suicídio é quem já o praticou. Já teve curiosidade de saber o que alegadamente “dizem”?