Helena Coutinho
Somos (todos) números, desde o dia em que nascemos, até ao dia em que termina a longevidade da nossa história. Mas seremos apenas isso?
Mais do que os nomes, há números que nos identificam como se estivessem tatuados na nossa face, na nossa voz, e nas nossas vontades. Mais do que a família, há números que identificam de onde viemos e para onde é possível continuar as jornadas da nossa vida. Somos números desde que somos considerados gente e até que nos tornamos habitantes da memória (dos outros).
Primeiro, somos afortunados com a liberdade de ser, apenas, resumo da felicidade de alguém. Um sonho transportado no coração e protegido pelos olhos do amor. Depois, já mais nutridos, começam a surgir os primeiros números da nossa existência, ao longo dos primeiros nove meses de adaptação ao mundo dos números. E, pouco a pouco, ganhamos medidas à medida dos números com que muitos decidem batizar os nossos dias e o nosso destino. Mas seremos, de facto, somente números? Seremos filhos de mãe e pai-estatística? Recuso-me a acreditar que a humanidade nasceu de algoritmos, em vez de ser fruto do verbo amar!
Com ou sem vontade, temos que ser números. É inevitável que sejamos o rosto e a voz de alguns. Contudo, ainda é opcional permitir que a nossa vida seja apenas a soma ou a subtração do que nos deixam ser, na história do mundo…
Sejamos, portanto, capazes de nos libertar de inúmeras fontes de vassalagem. E lutemos, sem medo, contra o mais mortífero dos vírus – a desumanização.