Raquel Evangelina
Caminho, e aos meus pés as folhas caídas de várias cores anunciam que o outono chegou. O outono, e tudo o que o envolve, é uma fase peculiar.
As árvores aceitam “caladas” perder as folhas. Talvez o façam sem revolta porque já perceberam que depois deste processo, e do luto que o Inverno lhes trará, haverá sempre uma Primavera para renascerem e terem nova folhagem. E por muito despidas que fiquem, por muito que o vento esteja contra elas, ali continuam, de pé, imponentes, sobreviventes a todo o dano que lhes é causado.
Também assim deveria ser a vida. Aceitarmos que, por vezes, embora não seja da nossa vontade, devemos largar o que está gasto, não nos serve, não nos acrescenta e ter fé que depois do “luto” algo melhor, e que merecemos, chegará. E, tal como elas, não deveríamos também ficar nós de pé, imponentes, mantendo a nossa dignidade por muito mal que nos tentem fazer? Por muita tristeza que nos possam causar? Por muita mágoa que nos possam dar?
Tento apanhar uma castanha do chão e pico-me no ouriço. Nada que não esperasse. O que vale a pena ter, por vezes, envolve um processo bastante penoso. O que fazer? Desistir porque não é tão fácil como queríamos? Se o fizessemos depois não poderíamos saborear a vitória, o resultado alcançado, ou, neste caso, a castanha. Aceitar o espinho e tornar a tentar. No final não era assim tão doloroso quanto parecia.
No ar corre uma brisa fria, que me despenteia o cabelo e penso na lareira e na sua sensação agradável de conforto. Também na vida, quando temos “frio” temos que recorrer às nossas pessoas que nos dão a mesma sensação. Aquelas que têm o abraço que aquece quando somos outono, ou até inverno, por dentro. As que sabem a palavra certa que nos faz acreditar que é só uma fase, que tudo passa. As que estão lá no outono. E no inverno, na primavera e no verão. O nosso alento. O nosso sol.
Olhando de uma forma meramente estética o outono até é bastante bonito. A natureza fica pintada de várias cores que transmitem tranquilidade, renascimento e uma nova fase.
Tudo são fases, processos necessários que, depois de superados, trazem um recomeço ainda mais bonito.
Assim é o outono. Assim é a vida.