Carla Guimarães Cardoso
A história começa em 1800 quando Alessandro Volta, conhecido pela invenção da pilha eléctrica, fez passar corrente eléctrica pelo ouvido. Para além de ter desmaiado relatou ter ouvido antes do desmaio um “som de água a ferver”. Posteriormente outros cientistas repetiram a experiência e notaram que o som desencadeado variava com a intensidade do estímulo eléctrico. Depois de vários anos sem novos desenvolvimentos os psicólogos Glen Wever e Charles Bray, em 1930 determinaram que o nosso ouvido gera um estímulo eléctrico em resposta a um estímulo auditivo. Seis anos depois Gersuni e Volkov descobriram o papel central da cóclea na audição pelo que a investigação posterior pode ser centrada neste órgão.
Contudo, só em 1957 é que surge o relato da primeira tentativa de estimulação eléctrica do nervo auditivo através da inserção de um eléctrodo.
A experiência foi feita por André Djourno e Charles Eyriés, a 25 de Fevereiro e o doente conseguiu reconhecer palavras simples e perceber o ritmo da fala. Tendo percebido o impacto da sua descoberta e o benefício para a humanidade Djourno não registou a patente. Isto permitiu que vários investigadores aperfeiçoassem a sua ideia original.
Em 1961 o Dr William House colocou o primeiro implante coclear monocanal num doente surdo, isto é um único eléctrodo era introduzido na cóclea. Estes permitiam ao doente ouvir sons mas não perceber os sons da fala. O doente ouvia mas não percebia.
Esse salto foi dado com a aparecimento dos implantes multicanais na década de 80. Estes implantes usam vários eléctrodos que estimulam diferentes zonas da cóclea. Inicialmente 6 eléctrodos hoje em dia já se encontram implantes com 24 eléctrodos.
Em Portugal o primeiro implante foi colocado num adulto, no Centro Hospitalar de Coimbra em 1985 pelo Dr Manuel Filipe Rodrigues e pelo irmão o Dr Fernando Rodrigues. O primeiro implante numa criança foi colocado pela mesma equipa a 3 de Julho de 1992.
O implante coclear é composto por um componente externo, constituído por um microfone, um processador e uma antena, e um componente interno, implantado cirurgicamente e constituído por um receptor/estimulador e um fino cabo de eléctrodos. O microfone capta o som e converte-o num sinal eléctrico, o processador filtra, analisa e digitaliza o sinal eléctrico e a antena transmite os dados para o receptor. O receptor, colocado por baixo da pele transmite o estímulo eléctrico pelo feixe de eléctrodos que está inserido na cóclea de modo a estimular as células cocleares remanescentes.
A indicação para a colocação de um implante coclear é sempre multidisciplinar. A equipa é constituída por um otorrinolaringologista, por um audiologista, um terapeuta da fala e um psicólogo. A colocação do implante é o primeiro passo no longo percurso de reabilitação auditiva do doente surdo ou com perda auditiva severa. É um primeiro passo de um processo extremamente gratificante.