Mateus Oliveira
Li, na secção de Economia do Jornal Expresso, que a “Classe média portuguesa tem das piores casas da Europa”. Segundo dados do Eurostat, apenas o Chipre – um país 12 vezes menor que nós – tem casas com piores condições que as nossas. As principais causas apontadas no estudo são o ruído, a humidade, a falta de luminosidade, e o baixíssimo conforto térmico. Sabe, quem me vai lendo por aqui, que as Casas são o meu objecto arquitectónico de eleição. Tenho em relação à habitação um fascínio inexprimível, cuja materialização – projectual e construída – me realiza profundamente do ponto de vista profissional. Nesse sentido é-me angustiante ler uma notícia destas… ainda que, infelizmente, não seja novidade.
Há, inegavelmente, muitos motivos que contribuem para esta realidade. Aliás, são tantos e de uma densidade tão grande que permitiriam uma publicação vasta e complexa. Da falta de cultura arquitectónica – de arquitectos e clientes – ao alheamento político para este problema.
Mas esta breve crónica tem apenas o objectivo de fazer com que cada uma das pessoas que me lê se permita refletir um bocadinho sobre este problema de forma a despertar em cada um o sentido crítico necessário para exigir mais de quem intervém na prática e na política habitacional, mas também social e económica.
Hoje, devido ao momento particularmente difícil que atravessamos, pedem-nos para ficarmos em casa. Entramos no inverno e é inquestionável que o frio e as más condições de salubridade agravam as doenças respiratórias, debilitando ainda mais as pessoas mais idosas e as mais pobres. Em função de tudo o que escrevi – e que é factual! – um dos aspectos que, de IMEDIATO, devia ser posto em prática, precisamente pela rapidez de impacto nas habitações das famílias portuguesas – era a diminuição do preço e da taxa de imposto da electricidade. Esta medida permitiria, ainda que de forma “paliativa”, que mais pessoas pudessem climatizar as suas habitações. A medida – reforço, ainda que “paliativa” – teria impacto significativo na melhoria do conforto das pessoas, à qual estaria inerente algum alívio do recurso ao sistema nacional de saúde.