Isabel Madureira
Todos os dias, nas nossas escolas, são reportados casos de violência, uns graves e, naturalmente, outros, menos graves. O que é facto é que a violência existe e não a podemos camuflar, caso contrário ela avança a olhos vistos.
Pela minha experiência, há sempre a tendência a desvalorizar a violência, seja ela contra alunos, seja contra professores e funcionários.
Importa, então, definir o conceito de violência, em primeiro lugar. Violência está associada a qualquer forma de uso intencional da força, coação ou intimidação contra terceiros. A partir desta definição, gostaria de encaminhar o meu artigo para o tema da violência na escola, também designada por bullying.
Nas escolas, a violência traduz-se por uma grande diversidade de comportamentos antissociais que poderão assumir qualquer forma de opressão ou de exclusão social, agressões, vandalismo, roubo, etc.
Estes comportamentos podem ser desencadeados por alunos ou por outros elementos da comunidade educativa. Em Portugal temos assistido a grandes alterações que não são nada animadoras. Verificam-se elevados índices de retenções, absentismo escolar, violência de alunos contra alunos e de alunos contra professores e, claro, a indisciplina na sala de aula é por demais evidente. Há uma certa passividade dos professores e direções da escola perante estes factos.
Obviamente que a escola deveria ser o pilar fundamental da educação e da segurança, prevenindo qualquer tipo de comportamento inapropriado e qualquer forma de violência, mas o que está a acontecer é precisamente o contrário.
Por um lado, as escolas não estão preparadas para a complexidade dos problemas sociais atuais na nossa sociedade. Por outro, a crescente participação dos alunos e encarregados de educação na tomada de decisões da escola não tem contribuído para melhorias, bem pelo contrário, essa participação tornou-se numa fonte de conflitos, aumentando o descontentamento e a agressividade. Na verdade, os pais participam apenas para reclamar direitos e nunca para assumir deveres.
A escola tem como principal missão transmitir conhecimento.Hoje em dia, falar de violência escolar, é falar de bullying. Esta palavra é de origem inglesa e significa oprimir, amedrontar, maltratar, ameaçar, intimidar. Foi adotada por vários países precisamente para definir o termo agressão/ vitimação de acordo com as características que o mesmo envolve.
Basicamente o termo bullying pode ser definido como uma agressão entre pares de forma continuada e intencional. Há uma diferença que pode ser muito grande entre os agressores e as suas vítimas. O Bullying pode ser exercido por um aluno sobre outro aluno, ou por um grupo de alunos (bullys) sobre outros alunos.
Assim, estamos perante bullying quando acontecem os seguintes critérios: Intencionalidade do comportamento, isto é, o comportamento tem por objetivo provocar mal-estar e ganhar controlo sobre a vítima; esse comportamento é exercido repetidamente e ao longo do tempo, isto é, não ocorre ocasionalmente, é persistente e regular; o desequilíbrio de poder encontra-se no centro da dinâmica, existe uma relação assimétrica, o mais forte e o mais fraco.
Como são escolhidas as vítimas? Por norma os agressores escolhem as suas vítimas ao pormenor, aqueles que apresentam fragilidades físicas e emocionais, ou simplesmente por um motivo fútil: a forma de vestir, a forma de estar, os óculos, o cabelo, a altura, etc.
Os agressores são fáceis de identificar e eles próprios fazem questão de mostrar que são os detentores do poder e são eles que controlam aqueles que querem controlar- as, suas vítimas.
Que causas poderemos apontar para esta agressividade?
As carências ao nível social e económico das famílias levam os jovens a organizarem-se em grupos onde cultivam a agressividade face à sociedade que os criou e consequentemente, os perdeu. É no seio familiar que as crianças e jovens criam os seus modelos de conduta, que depois exteriorizam da pior forma. A pobreza, a violência doméstica, o alcoolismo, a toxicodependência, a promiscuidade, a desagregação familiar, a ausência de valores, a permissividade, a demissão do papel educativo dos pais serão algumas das causas que corrompem o agregado familiar.
Normalmente, os jovens que vivem nestes contextos, tendem a reproduzir os seus modelos, violência gera violência. Então, a escola passa a ser o local ideal para a reprodução de comportamentos. Os agressores vingam-se naqueles que não têm culpa nenhuma do seu contexto, das suas circunstâncias.
Estas causas estão, muitas vezes, associadas a problemas de inadaptação social, consequência de uma educação deficitária por parte da família ou pelo meio onde o jovem agressor se insere (contexto) e da consequente ausência de referenciais positivos.
Sinais de alerta
As vítimas, por norma, sofrem em silêncio e, muitas vezes, os pais, professores e sociedade, nem sequer se apercebem. Todos nós devemos estar atentos aos seguintes sinais ou sintomas: as vítimas normalmente desenvolvem fobia à escola, pois é lá o local apropriado para os agressores; apresentam baixo rendimento escolar, depressão ou doenças psicossomáticas, regressão em algumas aprendizagens que já estavam consolidadas, tristeza latente, olhar perdido…O medo de contar é superior ao sofrimento de que são vítimas.
É objetivo deste artigo chamar a atenção dos pais e família para estarem muito atentos aos seus filhos. Se notar alguns dos sinais atrás mencionados, deverão passar imediatamente à ação. Trata-se de um crime público que pode ser denunciado por qualquer pessoa.
Por norma, quando os sinais de alerta se manifestam é porque a agressão foi continuada. Não hesite em denunciar, pois as vítimas destes agressores
sofrem danos irreversíveis se não forem detetados atempadamente.