Rui Canossa
A economia nacional sofreu um revés com a pandemia e algumas pequenas e médias empresas (PME) lutam pela sobrevivência. Mas também são muitas as que estão a conseguir ultrapassar a crise e a enfrentar com resiliência as contingências da atualidade. Neste processo, a transformação digital marca pontos e mostra a sua relevância.
O otimismo que dominava no início deste ano a performance positiva das empresas nacionais, com destaque para o papel desempenhado pelas PME, sofreu um volte-face nos últimos meses, fruto do impacto provocado pela pandemia resultante da Covid-19. Agora o cenário europeu é de pouco otimismo como ficou patente nos dados recentemente avançados pela Bloomberg, que revela que mais de metade das PME da Europa assumiam que poderiam pedir falência no próximo ano se não recuperarem as receitas.
Por cá a resiliência parece ser a palavra de ordem do dia, com muitas a mostrarem a sua capacidade de adaptação às novas circunstâncias de mercado transformando linhas de produção para novos produtos. Vejam-se os casos de algumas das empresas têxteis, que começara a fabricar máscaras ou EPI (equipamentos de proteção individual), ou as que começaram a produzir álcool gel ou viseiras. E isto é muito importante. Pois são as PME o motor da economia, pois são 99% do nosso tecido empresarial e responsáveis pela maior taxa de empregabilidade nacional. Representam cerca de 70% do PIB (Produto Interno Bruto), ou riqueza criada no país sendo responsáveis por uma fatia substancial das exportações, que aumentaram de 2008 a 2018 de 28% para 44% do PIB. Os números do site Pordata apontam para que, em 2018, fossem 1 milhão e 200 mil entre micro, pequenas e médias empresas.
Mas, não foi só ao nível da flexibilidade e da capacidade de se reinventarem, as empresas digitalizam-se. Para os trabalhadores e para os consumidores ficou bem patente que as tecnologias que os servem estão diferentes e que, no atual panorama, a digitalização passou a ser um fator de diferenciação contribuindo para a competitividade das empresas. Esta mudança foi de tal forma impactante, que muitas empresas fizeram em meses o que, num cenário normal, demoraria anos a executar. A economia tornou-se mais rápida e digital. Num relatório feito pela Facebook, numa parceria com o Banco Mundial e a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) sobre o impacto do Covid-19 nas PME portuguesas 31% delas têm mais 25% das suas vendas feitas online e ainda que existem sinais de recuperação económica. 93% das empresas dizem-se em atividade, contras os 77% de maio. 28% das PME afirmam que a falta de dinheiro em caixa é um problema, percentagem que em maio era de 36%. As PME que atuam no e-commerce (comércio eletrónico) e na saúde têm conseguido viver neste período com algum dinamismo, pois, fruto das novas necessidades, nunca como agora se comprou tanto online nem nunca se criaram tantas aplicações, produtos e serviços ligados à saúde e ao bem-estar. O desenvolvimento do e-commerce com pagamentos online cresceu 10 vezes! O marketing digital veio para ficar e quem mais cresceu foram os restaurantes, as farmácias, as lojas de roupa, lojas de material eletrónico, seguidos pelos salões de beleza e pelos minimercados.