Soni Esteves

Vencedora da II edição Prémio Ilídio Sardoeira
Escrevo porque leio e leio porque vivo, porque preciso fazê-lo, desde sempre. Primeiro para aprender a decifrar os textos, depois para aprender a decifrar o mundo e, tantas vezes para aprender a decifrar-me a mim.
Depois, só depois, veio a escrita. Como se fosse um passo mais, um outro modo de me arrumar no mundo. Pego nos sentimentos e visto-os de palavras. E preciso desse exercício para ser feliz. Os meus escritos refletem sempre os meus lugares, o meu tempo, as minhas viagens, as minhas pessoas, os meus bichos.
Quando me lancei na aventura de escrever “A casa da avó”, que havia de vencer o Prémio Literário Ilídio Sardoeira, senti que não o poderia fazer se não sentisse Amarante como um dos meus espaços. Procurei na minha memória, que muitas vezes me trai, lembranças desse lugar, e sim, tinha-as. Guardava paladares e a imagem de uma ponte sobre um rio, eternamente de passagem como o tempo, e a força da pedra em construções vertidas no espelho trémulo da água.

De resto, ainda há pouco, em viagem entre Vila Real e Braga, ali fizera paragem para provar, uma vez mais, os doces amarantinos que me lembrava de, há muito tempo, ter provado, deliciada, numa pastelaria sobranceira ao Tâmega. Amarante crescera desde a última vez que a visitara, modernizara-se, mas o centro guardava ainda aquela magia dos baús que as avós guardam nos sótão antigos. Ali, bem poderia viver a avó Margarida, era só vesti-la de palavras, e foi o que fiz. Os gestos que fiz seus são por certo os de alguma avó que eu conheço ou conheci, porque não sei mais do que reinventar o que vejo e o que sinto.

Acompanhei o processo de construção do livro. Da ilustração à capa, tudo teve um tempo, um tempo de doce espera, como são todas as esperas que valem a pena. Finalmente pronto! As ilustrações são belíssimas, e a capa é uma alegoria da própria narrativa.
A pandemia atrasou a apresentação, que acontecerá no dia 2 de dezembro, pelas 16h30, em Amarante. Será uma cerimónia restrita, os tempos assim o ditam. O grande obreiro da iniciativa, Dr. Joaquim Pinheiro, presidente da União das Freguesias de Amarante (S. Gonçalo), Madalena, Cepelos e Gatão, a Dra. Maria José Queirós, uma grande conhecedora e divulgadora da obra de Ilídio Sardoeira, o escritor António Mota, presidente do júri do concurso, e a jovem ilustradora amarantina, Joana Antunes, estarão, obviamente, presentes. Será uma honra conhecê-los, enfim, pessoalmente, e será muito bom ter na mão “A casa da avó”.