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Saúde e Vida

A VERDADE POR DE TRÁS DO USO DE PARABENOS EM COSMÉTICOS

Paulo Morais

Os parabenos (ésteres do ácido p-hidroxibenzóico) são uma família de conservantes, muito utilizada para o controlo de crescimento de micorganismos em cosméticos, alimentos e até em produtos farmacêuticos. Foram desenvolvidos nos anos 20 do século passado e são os conservantes mais utilizados hoje em dia. No setor dos cosméticos poderá encontrá-los em mais de 80% dos produtos, desde ​​cremes antienvelhecimento, loções, protetores solares, autobronzeadores e desodorizantes, até champôs, mousses, géis para o cabelo, maquilhagem e muitos outros cosméticos e produtos de higiene pessoal.

Os parabenos mais frequentemente utilizados são os metil-, etil-, propil- e butilparabenos, ainda que vários outros (isopropil-, isobutil-, pentil-, fenil-, benzil-) sejam também utilizados. São usados isoladamente ou, para melhor eficácia, na forma de mistura. Ao impedirem o crescimento de microrganismos (efeito biocida), os parabenos proporcionam aos produtos uma vida útil mais longa e estável, prolongando a sua validade, além de impedirem potenciais infeções por agentes patogénicos, como o Staphylococcus aureus ou a Pseudomonas aeruginosa, nos utilizadores. As infeções causadas por cosméticos contaminados são relativamente raras na atualidade, e os casos relatados são essencialmente referentes a doentes hospitalizados.

Quando aplicados na pele os parabenos são facilmente hidrolisados a ácido para-hidroxibenzóico por carboxilesterases dos queratinócitos (células da epiderme), enquanto que os parabenos ingeridos são metabolizados por esterases intestinais e hepáticas.

Nos últimos 15 anos os parabenos têm sido alvo de uma campanha de difamação nos media e por grupos anti-parabenos, e têm estado sob escrutínio pelos seus alegados efeitos estrogénicos e antiandrogénicos, bem como pelo seu eventual papel na promoção da carcinogénese, através da desregulação endócrina. Por isso, não será inusual ver destacadas nas embalagens de cosméticos as palavras “paraben-free” (sem parabenos).

Em 1998, Routledge e colaboradores1 mostraram que os parabenos possuíam uma fraca atividade estrogénica, uma vez que conseguiam ligar-se ao recetor estrogénico uterino de roedores e conseguiram aumentar a expressão de genes regulados por estrogénios em células de leveduras. No entanto, neste estudo os parabenos testados (metil-, etil-, propil- e butil-) mostraram ser milhares a milhões de vezes mais fracos do que o estradiol, uma hormona sexual esteróide naturalmente produzida por nós. Além disso, o estudo foi conduzido in vitro, numa cultura de células de levedura, os testes in vivo foram efetuados em ratos e os parabenos foram injetados na pele dos ratos, o que não ocorre na nossa exposição diária aos cosméticos. Curiosamente, o etinilestradiol, estrogénio encontrado nos contraceptivos orais, é 2 milhões de vezes mais potente do que o butilparabeno, e os fitoestrogénios da soja, nomeadamente os potentes daidzeína e genisteína, são 200 vezes mais potentes do que o propilparabeno.

Contudo, a grande polémica em torno dos parabenos estalou em 2004, após a publicação, no Journal of Applied Toxicology2, de um pequeno estudo no qual os autores mostram ter encontrado vestígios de parabenos em 20 amostras de tecido mamário com cancro. No entanto, este estudo apresenta muitas falhas metodológicas e não responde a várias questões essenciais, nomeadamente: no estudo não há controlos (tecidos normais, sem tumor) para comparação; os autores não procuraram parabenos noutros tecidos, não permitindo saber se os químicos estariam apenas nas amostras de tumor ou também noutros tecidos; não é possível determinar de onde vieram os parabenos (cosméticos? alimentos? medicamentos?) e qual o tempo de exposição.

Após várias críticas da comunidade científica, os autores publicaram um texto3 onde referem que no manuscrito nunca foi feita qualquer alegação de que a presença de parabenos seria a causa do cancro da mama e que a determinação da concentração de um composto num tecido, por si só, não pode fornecer evidência de causalidade. Infelizmente, a resposta foi publicada meio ano após o estudo original e, entretanto, os media já tinham alarmado o mundo sobre “os perigos dos parabenos”.

De acordo com o Comité Científico de Segurança do Consumidor (SCCS) da União Europeia (UE), os parabenos não representam nenhum risco para a saúde nas quantidades utilizadas atualmente. Os parabenos estão autorizados como conservantes na Diretiva de Cosméticos da UE numa concentração máxima individual de 0,4% para os etil- e metilpsoraleno ou 0,8% quando utilizados ​​em associação, e 0,19% para o propil- e butilparabeno (soma de ambos). Em 2011, a Dinamarca proibiu o propil- e o butilparabeno, as isoformas e os sais, em produtos cosméticos para crianças com menos de três anos de idade. Alguns meses depois, o SCCS reiterou a segurança dos parabenos nas crianças, impedindo apenas a sua utilização em produtos específicos para a área da fralda em crianças até aos 3 anos. A utilização de isopropil-, isobutil-, pentil-, fenil- e benzil- e pentilparabeno foi proibida, não por evidenciarem malefícios para a saúde, mas por falta de dados suficientes quanto à segurança.

Finalmente, deve referir-se que, apesar dos parabenos terem algum risco de induzirem alergia de contacto (sensibilização), a sua prevalência permaneceu baixa e estável ao longo dos anos, apesar do seu amplo uso em todo o mundo. Os parabenos são, na verdade, dos conservantes mais seguros a este nível. Infelizmente, o mediatismo, a perceção pública infundada da insegurança e a pressão para os substituir levou à utilização de conservantes sintéticos alternativos com potencial de sensibilização e dermatite de contacto muito superior. A prevalência de alergia de contacto aos parabenos, determinada por prova epicutânea positiva, é de 0,5-1,7% (dados americanos e europeus). Para outros conservantes de uso comum, as taxas de positividade são: 2 a 9% para o formaldeído, 1 a 9% para o Quaternium-15, 0,5 a 3,7% para a diazolidinilureia, 1 a 2% para a imidazolidinilureia e 2 a 2,9% para a metilcloroisotiazolinona/ metilisotiazolinona (MCI/MI)4.

Por isso, a American Contact Dermatitis Society, que seleciona anualmente o “alergénio do ano” para chamar a atenção para substâncias comuns, sub-reconhecidas ou que mereçam mais atenção por estarem a causar dermatite de contato alérgica de forma significativa, escolheu a mistura de parabenos como o (não) alergénio do ano 2019. Esta escolha irónica de uma substância que raramente é problemática como alergénio de contato visou mostrar que os parabenos são, na prática, conservantes seguros, eficazes em baixas concentrações e contra um amplo espectro de microrganismos, além de serem baratos e terem um baixo potencial alergénico. Claro que, se prefere cosméticos naturais, sem componentes tóxicos, sintéticos e químicos, pode sempre adquirir produtos livres de parabenos, sulfatos, silicones e ftalatos, verificados pelo Environmental Working Group.


Bibliografia:

  1. Routledge et al. Appl Pharmacol 1998;153:12-9.
  2. Darbre et al. J Appl Toxicol 2004;24:5-13.
  3. Darbre et al. J Appl Toxicol 2004;24:297-306.
  4. Lundov et al. Contact Dermatitis 2009;60:70-8.
  5. Fransway et al. Dermatitis 2019;30(1):3-

 

 

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