Marco Bousende
Em 384 a.C. nascia Aristóteles em Estagira no Reino da Macedónia. Filho de Nicómaco, médico do Imperador Amintas e posteriormente de Filipe II da Macedónia.
Assim, ao contrário do que porventura muitas pessoas pensam, Aristóteles não era ateniense. Na verdade Estagira pertencia ao norte da atual Grécia, território à data dominado pelos macedónios. Nesta altura o Reino macedónio estava em fase de marcado crescimento, com grande prosperidade que se seguiria sob o comando de Filipe II, amigo de infância de Aristóteles na corte de Amintas. Apesar deste florescimento, os gregos do sul, nomeadamente os atenienses, não consideravam os macedónios como iguais, desprezando-os.
Ao contrário da tradição epicúria de seu pai e avô, Aristóteles não enveredou pela medicina, decidindo mudar-se antes dos 18 anos para Atenas onde escolheu estudar na Academia de Platão. Foi um dos três melhores alunos do grande mestre, contudo com a morte deste foi preterido da liderança da Academia em favor de Espeusipo. Decide então abandonar Atenas passando por Hérmias, Assos e Mitilene onde dirigiu escolas. Em 342 a.C., o seu amigo de infância Filipe II, entretanto Imperador, convida-o para educar o seu filho Alexandre e a restante prole da corte imperial.
Muitos destes seus alunos viriam a ser reis e generais no vasto Império que Alexandre, para a posteridade Magno / Grande, viria a forjar. Obviamente Aristóteles não ensinou Alexandre sobre a arte da guerra, contudo a inteligência, a perspicácia e a audácia do Imperador beberam em muito dos ensinamentos do mestre filósofo.
Ao longo destes 2300 anos entretanto passados, os dois grandes génios que se cruzaram tão intrinsecamente continuaram a ter grande relevância. Aristóteles inspirou filósofos, teólogos, cientistas, artistas, cineastas…
Alexandre Magno construiu antes dos 30 anos um dos maiores Impérios da História, com extensão desde a Grécia ao Egipto e do magrebe ao noroeste da Índia. Morreu invicto sendo, ainda hoje, fonte de saber indispensável para os grandes militares e políticos.
Em 8 de setembro de 1991 a República Jugoslava da Macedónia declarava a Independência. Pretendendo adotar o nome oficial de República da Macedónia, viu a Grécia ameaçar bloquear a sua adesão aos organismos internacionais caso o fizesse. Embora a Antiga Grécia Clássica desprezasse os macedónios, a atual Grécia não abdicava dos direitos históricos sobre a herança cultural e dos feitos de Aristóteles e Alexandre Magno.
Assim, entre 1991 e 2019 a antiga república jugoslava adotou o nome provisório de Antiga República Jugoslava da Macedónia, enquanto decorriam as tensas negociações com os governos gregos. Em 12 de junho de 2018 firmou-se o acordo de Prespa em que os primeiros ministros de ambos os países ( Zoran Zaev macedónio e Alexis Tsipras grego) finalmente chegaram a um entendimento. Os macedónios adotariam o nome definitivo de Macedónia do Norte. O acordo foi muito contestado na Grécia, sendo que, apesar do coração da Macedónia clássica pertencer ao norte da atual Grécia, muitos gregos não perdoaram a Tsipras ter permitido que os vizinhos utilizassem o termo Macedónia no seu nome oficial.
Um ano após o Acordo de Prespa, Tsipras perdeu as eleições legislativas. O firmar do acordo não terá sido a única causa para o desfecho eleitoral, contudo vários comentadores e cientistas políticos gregos referem-no como o possível canto do cisne de Tsipras. A vitória foi para o partido Nova Democracia, do conservador com matizes nacionalistas Kyriakos Mitsotakis, muito crítico do desfecho negocial com Skopje.
Os maiores da História nunca morrem.
Aristóteles e Alexandre Magno continuam bem vivos, também na geopolítica.