Ana Miranda
Depois de um ano tão atípico e desalumiado, que apanhou tudo e todos desprevenidos, suscitando duras críticas e maledicências – justas ou não – aos que nos dirigem (que, por inexperiência com a celeuma, não sabiam muito bem o que estavam a fazer), resta-nos, agora com mais sustentabilidade científica, agir em prol da proteção social e refletir! O meu desejo é que este período não tenha servido somente para documentar nos compêndios de História, sem originar elucubrações significativas nas mentes dos portugueses!)!
Que esta fase foi difícil para muitos, é do entendimento geral. Ela furtou-nos a confiança no próximo, o ócio, a liberdade e até o conceito natalício de união confraternal que, teremos, inevitavelmente, de reajustar! Cada agregado familiar, na sua “trincheira”, terá de se reinventar para acolher esta época sem mutações de essência, pois o que é festivo não tem de se converter, necessariamente, em algo lúgubre!
Pese embora a receita comum de restrições à circulação e ajuntamentos (que já considerando os receios válidos perante um nova vaga de contágios em 2021, foi aligeirada pelo Governo), há a possibilidade de celebrar esta data, sem lhe retirar o simbolismo caraterístico.
O número de elementos agremiados à mesa de Natal pode ser menor, mas a possibilidade de se avivar, na consciência destes mesmos elementos, a razão de ser destes encontros e o quão importante são, avoluma-se.
Para que o medo de contaminação não comprometa a alegria que subjaz a esta época, devemos todos estar conscientes das medidas de distanciamento e higienização a adotar (antes e durante as celebrações), encarando-as como benfeitoras e não como as vilãs.
As dificuldades económicas, a exaustão e o desgaste psicológico que esta crise pandémica acarretou estarão, ainda que tacitamente, vincados na noite de consoada e festejos subsequentes (abafá-los com uma lente de cor rosa é cair no ridículo); contudo, conseguimos, se fizermos um esforço para tal, não deixar passar esta época especial em branco, e muito menos os ensinamentos que comporta.
Se cada um iniciar 2021, com a certeza de que nada substitui os afetos de quem amamos, de que esta passagem terrena é um sopro e de que não somos imbatíveis, terá assimilado, com distinção, as matérias lecionadas pelo vírus. Para os mais egoístas/ególatras e desviados da rota (parece-me demasiado forte e presunçoso, apelidá-los de isentos de caráter), esta foi, seguramente, uma preleção e tanto!
Feliz Natal
Ana Miranda – Psicologia
Clínica Osvaldo Moutinho