Ana Miranda
Os termos crise de ansiedade e ataque de pânico são empregues, comummente, de forma indistinta; pese embora a existência de um espetro diferencial considerável, a separá-los.
O vulgo ataque de ansiedade não apresenta correspondência para quaisquer categorias diagnósticas no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), sendo um conceito utilizado por pacientes com sintomatologia ansiosa, para descrever períodos de ansiedade intensa ou ininterrupta perante uma ameaça percebida (evento futuro), perfilhado por vários profissionais. Este pico ansioso, que carateriza o termo, tem uma duração variável (minutos, horas, dias ou semanas), cessando imediatamente após o desaparecimento do estímulo que o gerou, do encontro de uma estratégia adequada que lhe ponha fim ou, na pior das hipóteses, após o esgotamento do próprio sistema fisiológico. O ataque de ansiedade, não raras vezes, apresenta-se como um “pródromo” do ataque de pânico. Dos sintomas presentes no ataque de ansiedade, destacam-se: a inquietação/nervosismo; a sensação de cansaço extremo, mesmo na ausência de um esforço mental e/ou físico que o fundamente; a dificuldade de concentração e de controle das preocupações; a tensão muscular; a irritabilidade e os distúrbios de sono. Os padrões de evitação e a prudência excessiva são as respostas mais evidentes, derivadas da exposição anterior a um episódio desta natureza.
De ressalvar que, sendo a ansiedade uma resposta natural a certos estímulos ou situações, o ataque de ansiedade não é, por si só, um vaticinador seguro da existência de um transtorno ansiogénico, exigindo-se uma avaliação mais minuciosa do histórico do indivíduo.
Por sua vez, o ataque de pânico ocorre sem motivo aparente ou na ausência de um perigo real. Os seus sintomas, que desaparecem depois de alguns minutos, incluem: a sensação de morte ou perigo iminente; o medo de perder o controle; o batimento cardíaco acelerado; a transpiração; os tremores; a dificuldade em respirar; o aperto na garganta; o calor; a náusea; a dor abdominal, no peito ou cabeça; as tonturas, vertigens ou desmaios; o entorpecimento ou formigueiro e a sensação de irrealidade ou desapego. O ataque de pânico pode ser desencadeado por eventos traumáticos ou níveis extremos de stress ou pressão e, se experienciado repetidas vezes, um indicador válido (praticamente inequívoco) de uma Perturbação de Pânico.
Mais do que uma questão semântica, parece-me ficar claro (para quem me lê), o desigual sentido atribuído, na prática clínica, aos termos. Uma confusão de significância, por parte dos profissionais de saúde, seria desastrosa, a médio e longo prazo, conduzindo à iatrogenia. Assim, para além da aquisição teórico-prática cimentada das matérias da área, defendo de forma acirrada o apuramento detalhado e repetido da história de vida dos pacientes (sem visos de parcimoniosidade), antes da elaboração de um diagnóstico e aplicação do respetivo tratamento curativo.
As Perturbações de Ansiedade e os Transtornos de Pânico (ou mesmo outros sinais de alteração comprometedores da saúde mental) encontram amiúde um prognóstico favorável, quando assinalados atempadamente. Logo, um cuidado permanente/escrupuloso para connosco economizar-nos-á, indubitavelmente, qualidade de vida. Observe-se, escute-se e aja!
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Ana Miranda – psicóloga
Clínica Osvaldo Moutinho