Celmira Macedo
– “Eu não quero os melhores professores, quero os mais felizes” – Com esta frase a filha de uma amiga minha deixou-me a pensar durante meses. Tem 9 anos e já percebeu o que muitos de nós, leva uma vida inteira para entender: a importância de sermos felizes naquilo que fazemos.
Mas o que levará uma criança a identificar a felicidade no seu professor? Afinal de que massa são feitos os professores felizes? Os professores felizes são menos bons professores?
Vamos ao que define um bom professor. Para Schön (2000) um bom professor é aquele que reflete as suas práticas. Um bom professor investe na sua formação ao longo da vida. Um bom professor vê a sua sala de aula como um laboratório e a si próprio como um membro dinâmico de uma comunidade científica e social, que se quer constantemente atualizada.
Por falar em atualização, um estudo realizado na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra, quis perceber junto dos seus alunos o perfil de um “Bom Professor”. Os resultados são mais ou menos o esperado. Na perceção dos estudantes um “Bom Professor” apresenta o seguinte conjunto de características: ter domínio dos conteúdos da disciplina que leciona; ter capacidade de cativar e motivar os alunos; ser capaz de desenvolver uma boa relação, ser e estar disponível e acessível, ser compreensivo e tolerante, relacionar a teoria com a prática, ser exigente, assíduo e pontual.
Já sabemos o que define um bom professor mas, não serão os professores dentro deste perfil, felizes? A preparação científica e pedagógica não lhes dá a segurança e satisfação, de estarem a cumprir com as suas funções? Ou falamos de outros indicadores de felicidade?
Muitos bons professores investem o seu tempo a perceber se são ou não, as suas práticas que determinam o sucesso ou insucesso dos seus alunos. São professores que se importam. Dominam a arte do inconformismo como diria Chris Guillebeau. E o inconformismo, se por um lado, é motor de busca pela excelência, por outro, sobretudo se não for valorizado, desassossega, desgasta e desmotiva.
Assim, consigo já perceber a quota parte da infelicidade aparente.
Todos sabemos que as representações sociais da classe docente atravessam o pior período de que temos memória. Parece ter-se tornado normal desvalorizar a classe docente. Certo é que isso vai deixando marcas, até nos bons professores. Os índices de stress e burnout docente crescem a uma velocidade preocupante: 55.1% em 2018, segundo a revista “Psicologia, Saúde & Doenças”. Em 2020, atingiu-se o pico de stress e exaustão emocional. Quem o diz é a Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas.
Pandemia e burocracia rimam na narrativa, mas na prática letiva, são antagónicas. Demasiado duras para quem continua a fazer da escola o melhor lugar para crescer.
Por muito felizes que os professores possam querer ser, no exercício das suas funções, não me parece que tenham um caminho fácil.
Atacados muitas vezes pelos próprios pares, os bons professores destacam-se contrariando a inércia pedagógica. Espicaçam consciências, levam os alunos e as famílias a envolverem-se. Estragam a média. Como é possível que só com aquele professor os alunos não faltem, que atinjam o seu potencial máximo, que os pais participem? São uma aberração. Uns freaks. Há que os combater.
No fim, torna-se fácil entender por que é que alguns professores preferem ser só felizes e outros, só bons.
Ainda assim, dita-me a carolice que continue a acreditar que ser feliz na docência é vivê-la com paixão e determinação, o que por si só transforma os professores, nos melhores professores e estes, nos mais felizes.
Raquel Varela diz que o burnout docente contagia as crianças, concordo. Contudo acredito que não tenha contagiado a Maria, a filha da minha amiga, pois são crianças como ela que nos motivam como professores e são a prova de que, afinal, até estamos a fazer um excelente trabalho.
Um forte abraço aos bons professores e que apesar de tudo continuem a ser muito felizes, pois só mostra que dignificam a profissão que escolheram. O resto… bem, o resto são peanuts.