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Cidadania e Sociedade

COVID 19- MAIS UM CONFINAMENTO COM SUCESSO DUVIDOSO

Antonieta Dias

A permissividade das regras que foram decididas nos festejos do Natal e do Ano Novo, como era previsivel tiveram como consequência a necessidade de voltarmos a repetir mais um confinamento.

Obviamente que a gravidade da propagação da infecção e o número elevado de doentes infetados e de mortes por COVID 19, são de tal forma desoladoras que todos sem excepção ficamos com o nosso coração e nossa alma doentes por assistir a tanto sofrimento humano.

Na minha opinião muita coisa poderia ter sido evitado se o confinamento fosse decretado no período Natalício e na passagem de Ano.

Nessa altura sim e apesar de todos nós sentirmos a necessidade da aproximação, da felicidade e da alegria de passarmos estes dias com a nossa querida Família, poderíamos ter feito o sacrifício de ficarmos em nossa casa apenas e só com os familiares que vivem connosco todos os dias.

A gravidade e o caos a que estamos a assistir destrói todos os motivos que originaram a celebração destes eventos.
Não conseguimos controlar o drama que se está a viver e que vamos continuar a sofrer nos próximos dias.
Não temos previsão para o fim desta pandemia, o que sabemos é que em cada dia que passa temos mais doentes a morrer, mais doentes infectados e os recursos de asssitência a escassear.

Continua a não se investir na Educação para a Saúde que é uma das principais medidas para mudar os comportamentos e as atitudes e uma das principais formas de minimizar a propagação da doença.

Com este confinamento cheio de medidas excepcionais vamos ter a população sem trabalhar, destruindo a economia que está cada vez mais frágil e que certamente não vai conseguir manter a sua sustentabilidade.

O facto de se permitirem tantas excepções vamos constatar com uma população que fica a “entreter-se” em casa, a passear na rua, a ir às compras, a levar os filhos às escolas ou a passear os animais de estimação pois existem muitas alternativas para se continuar a sair de casa.

Não existe controlo nas saídas e se as pessoas não forem cumpridoras das regras, vai ser um desastre.
Já constatamos que uma boa parte das pessoas não tem rigor e não vai aderir ao que está determinado por lei e vai continuar a propagar a infeção.

Existe uma incoerência enorme nas orientações que estão a ser divulgadas, sendo que o mais grave é continuamos a não saber esclarecer convenientemente a população e as pessoas continuam desinformadas e confundidas.
Desperdiçam-se recursos e não se consegue controlar a pandemia.

Em 2020 deparamo-nos com uma situação nova que abalou o Mundo .

Uma doença súbita, de fácil propagação, de difícil diagnóstico por não ter um padrão de sintomatologia e de difícil tratamento.
Aloja- se em qualquer pessoa, sem seleção de idade, sexo ou estatuto social.

Esta doença designada por Covid 19, parou o Mundo, isolou as pessoas e continua a matar sem dó nem piedade.
Não sabemos quando terminará este flagelo, pouco conhecemos ainda desta doença, muito menos como a devemos tratar ou impedir que se continue a propagar, apesar do recente aparecimento das vacinas.

O tempo de incubação parece ser de 14 dias, a sintomatologia é variável, tanto se pode manifestar de forma insidiosa com manifestações pouco importantes e desaparecer desconhecendo – se se os doentes ficam imunes/ e ou portadores.

Outros têm manifestações mais graves com febre, mialgias e insuficiência respiratória o que obriga em muitos casos a internamento hospitalar e a respiração assistida ( ficam ligados a um ventilador), nestes casos a recuperação é difícil, respondem mal aos tratamentos e muitos morrem.

Nem todos têm sintomatologia respiratória o que ainda dificulta mais o diagnóstico.
Nalguns doentes manifesta- se com um quadro de diarreia e vómitos, com ou sem febre.
Noutros pode dar alterações do comportamento e prostração.

Isto tudo obriga a que todos os profissionais tenham equipamento de proteção uns com proteção mais exigente (se estão especificamente na linha da frente para assistir os doentes infetados com Covid 19) em que a necessidade de proteção implica uso de máscaras próprias, luvas, viseiras, toucas, golas, vestuário destinado a uso exclusivo, botas de proteção do calçado.

Este equipamento deve ser suficientemente seguro para diminuir o risco de infecções nos profissionais da saúde.
Exige um ritual próprio para os profissionais se equiparem e desequiparem com necessidade de uma metodologia em que a técnica tem de ser rigorosa e sem erros.

Desta forma procura- se minimizar o risco de infeção, todavia não é nada fácil trabalhar nestas circunstâncias muito menos respeitar a distância obrigatória, dado que os médicos têm que auscultar os doentes e os estetoscópios não têm comprimento de um metro e meio, o exame objetivo não pode ser feito à distância, Enfim existem um cem número de procedimentos que obrigam os profissionais da saúde a aproximarem-se dos doentes que apesar de estarem com equipamentos de proteção individual os riscos de infecção são enormes.

Permanecer horas com máscaras, viseiras, luvas e batas é um desespero.
Decorrido quase um ano neste sofrimento é terrivelmente desgastante e poucos profissionais conseguem manter-se por mais tempo a trabalhar nestas circunstâncias.

A exaustão já se instalou há muito tempo e é praticamente impossível manter esta luta diária de salva vidas.
O caos está instalado, cada dia que passa morrem mais doentes e o número de infetactados aumenta substancialmente

Importa ainda , referir que nalgumas instituições os doentes infectados e não infectados partilham os mesmos espaços , contribuindo esta situação para aumentar o risco da propagação da infecção por COVID 19.
O risco para os doentes é enorme, muitos entram sem doença e saem infectados pela proximidade dos contatos.
Esta situação não é fácil de ultrapassar nem para os doentes nem para os profissionais da saúde.
É importante também referir que os profissionais da saúde não são heróis, são pessoas humanas que assumiram um compromisso e fizeram um juramento que se destinava a salvar vidas, que estariam disponíveis para assistir os doentes na comunidade em todas as circunstâncias e em todas as doenças.

A dedicação e disponibilidade dos profissionais da saúde não se manifesta apenas para tratar os doentes Covid 19.
A sua função vai mais além e esta vivência inédita e desoladora é terrivelmente frustante pois os profissinais da saúde não conseguem dar resposta às outras prioridades dos doentes que padecem de outras patologias muitas delas mais graves que o COVID 19.

A preocupação e o desânimo é avassalador.
A frustação instalou-se, o descontrolo no atendimento cresce, as condições de trabalho degradam-se os doentes sofrem e os profissioniais não conseguirão resistir por muito mais tempo.
Os prejuízos são enormes, os conflitos e a detioraçao mental está a destruir as pessoas.
As regras de conduta estão completamente desvirtuadas, a tolerância é cada vez menor e a sociedade está cada vez mais desumanizada e menos solidária.

A falta de assistência aos doentes não Covid, as consultas e as cirurgias adiadas está a matar muitas mais pessoas que a COVID 19, pois as doenças prevalecem, o acompanhamento não está a ter resposta e as patologias agudas ( enfartes e acidentes vasculares cerebrais continuam a surgir) e as crónicas não estão a ser vigiadas.
Sem dúvida que existem prioridades no atendimento dos doentes urgentes mas essas prioridades abrangem todas as doenças muitas delas com critérios de atendimento de emergência morrem ou em casa ou no percurso para as urgências hospitalares ou ate mesmo à entrada do Serviço de Urgência enquanto aguardam horas para serem atendidos como têm sido relatados pela comunicação social.

Naturalmente que as medidas de proteção ( uso de máscaras e luvas), o isolamento social e o distanciamento interpessoal são medidas obrigatórias e que todos nós temos de cumprir, todavia se gerarmos o pânico vamos contribuir para o crescimento de doenças do foro psicológico que fragilizam e tornam as pessoas mais vulneráveis.
Certo é que este flagelo do Covid 19 tem de ser combatido drasticamente e todas as medidas sanitárias implementadas e destinadas ao impedimento da propagação da doença, ao diagnóstico atempado e célere são emergentes e necessárias para impedir que novos casos surjam e que os doentes morram.
Isto não exclui que os profissionais da saúde não adoptem as medidas de proteção individual no atendimento e na observação de doentes potencialmente não Covid, porque como já referi os quadros clínicos têm sintomatologia variada e não existe um padrão definido da tipologia Covid 19, por tudo isto é que o diagnóstico e tratamento destes doentes se torna tão complicado.

Por fim um conselho para os doentes institucionalizados, e para os cuidadores que deviam estar proibidos de circular de Instituição para Instituição.

Acresce ainda que os idosos e os cuidadores deveriam ter prioridade na vacinação..
Como sabemos existem instituições que não tinham condições para proteger estas pessoas não só porque não existem espaços suficientemente largos para o distâncionamento interpessoal, bem como a preparação técnico profissional de muitos cuidadores não é a mais adequada, devido a falta de formação, de vigilância e controlo na fiscalização não só das instituições públicas como privadas.
No meu entender deveriam existir comissões de acompanhamento que visem melhorar ajudando a encontrar uma melhor resposta na assistência das pessoas que estão institucionalizadas ou que vivem em famílias de acolhimento.
Este acompanhamento deveria ser alargado aos idosos que vivem, sozinhos em suas casas sem qualquer apoio social.

Em suma, esta pandemia tem alterado as condições de sobrevivência a nível mundial e parece que nunca mais vai ter fim.
O Estado atrasou-se nas decisões do confinamento e deveria tê-lo feito em Dezembro antes do Natal.
Isto evitaria as consequências que estamos a ter agora.

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