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Cultura, Literatura e Filosofia

A HORA É DE REFLEXÃO

Regina Sardoeira

Tenho pensado bastante, ultimamente, na teoria epistemológica de Thomas Kuhn.( Thomas Kuhn nasceu a 18 de julho de 1922 em Cincinatti, Ohio, Estados Unidos da América, formou-se em Física (summa cum laude) em 1943, pela Universidade de Harvard. Recebeu desta mesma instituição o grau de mestre em 1946 e o grau de doutor em 1949, ambos na área de Física. Morreu em 17 de junho de 1996.)

Segundo esta concepção acerca do desenvolvimento da ciência, Kuhn deu ênfase à noção de paradigma o qual corresponde ao conjunto de leis, métodos, sistemas, teorias que presidem ao estabelecimento da ciência e ao trabalho dos cientistas vigentes numa determinada época. Mas no momento em que surge uma anomalia no sistema, não solúvel dentro do paradigma, a ciência entra em crise. Os cientistas tentam resolver a(s) anomalia (s) de acordo com as teorias e os métodos que conhecem; caso não seja possível, dá-se a ruptura do paradigma, a designada ciência normal, nas linhas do paradigma existente, entra em descrédito, gera-se uma revolução científica e, por fim, estabelece-se um novo paradigma, parcial ou total.

Esta concepção epistemológica, sendo uma das interpretações do processo e desenvolvimento da ciência, parece-me poder alargar-se ao desenvolvimento do mundo e da sociedade.

Creio que vivemos, actualmente, um momento de anomalia. O sistema, bom ou mau (pouco importa para esta análise), que mantinha em coesão o modo de viver dos humanos, entrou em ruptura, o paradigma vigente deixou de conseguir resolver as questões básicas do cidadão, à escala global. Vive-se , pois, um momento de crise, as velhas soluções não são compatíveis com os problemas emergentes.

As pessoas, quer sejam os líderes mundiais, os governos e todas as classes dominantes, quer os indivíduos singulares, na sua rotina quotidiana, procuram enquadrar a situação nas linhas daquilo que conhecem e consideram válido. Mas, uma e outra vez, o paradigma instituido antes mostra não estar à altura de resolver os problemas actuais.

Então, os órgãos decisores vão alinhavando soluções de compromisso a médio prazo, enquanto ganham tempo para estudar a(s) anomalia(s) e encontrar a solução definitiva.

O período de crise, quer no desenvolvimento da ciência, quer neste contexto total a que o apliquei, pode não se compatibilizar nunca mais com o paradigma pré-existente. Ou seja: poderá não haver possibilidade de recuo e de retoma do estilo de vida, tal qual era.

Assim, terão que ser criados novos modelos de dinâmica social, novos estilos de vida, novos métodos de sobrevivência física, intelectual, psicológica. O humano terá que adaptar-se aos novos tempos, terá que aprender a ser, num contexto inabitual.

Neste momento vivemos mergulhados no caos. Quase tudo o que tomáramos como certo para a nossa vivência individual e colectiva, até agora, perdeu a validade.

Os governantes dizem e depois contradizem-se. Tomam medidas hoje que amanhã rejeitam. Decidem um conjunto de procedimentos num dia e precisam de alterá-los no dia seguinte. São atitudes típicas de um mundo anómalo, governado por pessoas adaptadas a um sistema que deixou de ser eficaz.

Os indivíduos, em geral, tentam viver o quotidiano; e, ora respeitam com zelo as ordens emanadas por quem os dirige, e se sentem manietados, ora resistem, insistindo na manutenção dos velhos hábitos, com custos de várias ordens.

A verdade é que este momento é típico de uma crise global, sem fim à vista e com resultados ainda não evidentes. Tal como nos métodos científicos, no contexto dos quais não é unânime o modo de aceder ao novo paradigma, também na estruturação de um novo mundo, de uma nova ordem, não haverá total conformidade. E muitos oportunistas nascerão do caos, buscando privilégios para si e prejudicando o resto do mundo.

Entretanto, vivamos este momento anómalo, esta crise, sabendo que houve outras antes e que o homem pôde superá-las, reforçando-se. Não procuremos respostas ou soluções extemporâneas porque falharão, sem dúvida e talvez comprometam o resultado que se deseja. A hora é de reflexão, de contemplação ( porque não?),a acção deverá ser cuidadosa e controlada e cada um de nós pode, sem tutelas, encontrar o seu caminho.

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