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Cidadania e Sociedade

A CRISE DA PANDEMIA OU A PANDEMIA DA CRISE?

Rui Canossa

A economia portuguesa teve uma contração de 7,6% em 2020, em termos homólogos, segundo a estimativa rápida divulgada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), esta terça-feira dia 2 de fevereiro. A pandemia levou assim e conforme antecipado à maior recessão, ou crise, da economia portuguesa desde o 25 de abril e, segundo os dados disponíveis, pelo menos desde a década de 60. Contudo, a quebra foi inferior ao esperado pelo Governo no Orçamento do Estado para 2021 e pelas instituições nacionais e internacionais. No conjunto do ano 2020, o PIB registou uma contração de 7,6% em volume (crescimento de 2,2% em 2019), a mais intensa da atual série de Contas Nacionais, refletindo os efeitos marcadamente adversos da pandemia Covid-19 na atividade económica, o que me leva a dizer que estamos perante a crise da pandemia.

O Governo projetava uma quebra de 8,5%. Entre as principais instituições nacionais e internacionais, a projeção mais otimista era do Banco de Portugal (BdP), que previa que o PIB tivesse recuado 8,1% em 2020 e a mais pessimista do FMI, que apontava para uma queda de 10%. A OCDE projetava uma diminuição do PIB de 8,4%, enquanto a Comissão Europeia e o Conselho das Finanças Públicas estimavam uma diminuição de 9,3%. Isto fez-me lembrar um professor meu da Faculdade de Economia do Porto que nos dizia: “Querem fazer previsões? – Façam muitas, pode ser que acertem alguma!”.

O INE explica que a procura interna teve “um expressivo contributo negativo” para a diminuição do PIB, depois de ter sido positivo em 2019, reflexo sobretudo da contração do consumo privado. Também o contributo da procura externa líquida foi mais negativo em 2020, verificando-se reduções intensas das exportações e importações de bens e de serviços, “com destaque particular para a diminuição sem precedente das exportações de turismo”. Isto já é conversa dos economistas, a procura interna é composta pelo consumo, privado e público e pelo investimento, enquanto a procura externa líquida é a diferença entre as exportações e as importações de bens e serviços.

Mas, há sinais positivos, o PIB aumentou 0,4% em cadeia no quarto trimestre de 2020, acima do esperado e que compara com a queda de 13,9% no segundo trimestre, seguido de um crescimento de 13,3% no terceiro trimestre. Ainda assim, na comparação homóloga, ou seja, em igual período do ano anterior, o PIB diminuiu 5,9% no último trimestre do ano, quando no terceiro trimestre a queda tinha sido de 5,7%.

 

O peso da dívida pública subiu para 133,7% do PIB no ano passado, um novo máximo histórico, e ligeiramente abaixo do esperado pelo Governo. Segundo a atualização dos dados pelo Banco de Portugal (BdP) esta terça-feira, após o Instituo Nacional de Estatística (INE) ter divulgado os dados do PIB do ano passado, o rácio da dívida pública face ao PIB, na ótica de Maastricht, aumentou 16,5 p.p (pontos percentuais).em comparação com 2019.

No Orçamento do Estado para 2021, o Governo projetava que o peso da dívida pública tivesse atingido os 134,8% do PIB em 2020 e retomasse a trajetória descendente este ano, caindo para 130,9%. “Nesse sentido, prevê-se uma redução do rácio de -3,9 p.p. (pontos percentuais) para 130,9% do PIB. O principal contributo será dado pela retoma do crescimento nominal do PIB e, em segundo plano, pela redução dos depósitos das administrações públicas em cerca de 1,7 p.p. do PIB”, referia o relatório do OE2021, em outubro. Porém, o peso da dívida pública fixou ligeiramente abaixo do esperado.

A dívida pública aumentou para 270.408 milhões de euros em dezembro, um novo máximo histórico, revelou ontem o BdP. Quando comparado com dezembro de 2019, a evolução traduz um salto de 20,4 mil milhões de euros.

O regulador bancário, BdP, explicou que para este acréscimo contribuiu o aumento dos títulos de dívida (17,6 mil milhões de euros), dos empréstimos (1,7 mil milhões) e das responsabilidades em depósitos (1,1 mil milhões de euros), por via, principalmente, das emissões de certificados do Tesouro. Já os depósitos das administrações públicas fixaram-se em 23,9 mil milhões de euros no final de 2020, ou seja, um aumento de 9,4 mil milhões de euros em 2020. Ora é nesta parte, do aumento constante da dívida pública, ano após ano, independentemente da pandemia que sou levado a observar a pandemia da crise. E nem fui pelo lado da cada vez maior carga fiscal sobre os portugueses. Mas vêm aí os 58 mil milhões de Bruxelas para ajudar a economia portuguesa, vamos aguardar, vai tudo melhorar. Vai ficar tudo bem.

 

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