Celmira Macedo
Comecei a liderar equipas no ecossistema da economia social e nos últimos anos, no projeto EKUI. Ao contrário do que parece ser uma prática corrente, não me formei na área da liderança. Fui assim reconhecida pelos meus pares. Não desvalorizando a busca de conhecimentos adicionais, sinto que a liderança é intuitiva e que nasce contigo. São os comportamentos e atitudes que vais desenvolvendo ao longo da vida, que desafiam os outros a seguir a tua “dança”.
Inicialmente corres o risco de te verem como “um louco a dançar sozinho”. Mas persistes. Acreditas em ti e no que defendes. Mais tarde ou mais cedo alguém te seguirá.
São os teus seguidores, que transformam o “louco”, num líder. A liderança é como uma corrente elétrica, precisa de dois pólos. Líderes e seguidores. Sem um deles, não há circulação de energia, logo não há liderança. António Rego tinha razão.
Quando o que fazes se transforma num movimento e soma adeptos, mesmo sem o teres desejado ou planeado, lideras. E isso, pode ser fantástico ou assustador, pois corres o risco de ser visto, como uma espécie de entidade divina multifacetada, com direito a cognome e tudo*.
– O Historiador. O único que conhece o passado e o contexto da organização. Atualiza-te;
– O Cão de guarda: toda a gente espera que analises milimetricamente as normas, os valores, crenças e cultura da tua organização. Fareja;
– O Visionário: é bom que trabalhes com outros líderes e com a comunidade. Convive;
– O Símbolo: o teu comportamento, hábitos e rotinas definem a tua organização. Comporta-te;
– O Oleiro: moldas e és moldado pelos que representas. Cuida-te;
– O Poeta: convém que defendas ferozmente os valores a imagem da organização. Cultiva-te;
– O Ator: todos sabemos que um bom líder exagera sempre nas comédias e tragédias da vida organizacional. Atua;
– O Curandeiro: é ati que recorrem para curar as feridas do conflito e da perda. Habitua-te.
Atenção! Não te endeuses, podes facilmente passar de bestial a besta. Liderar implica tomar decisões que nem sempre agradam a gregos e troianos. É a velha mitologia grega a trazer-te de volta à vida real. Por isso, mantem-te fiel a ti mesmo, defende a competência e a transparência. Premeia o esforço.
Ser um bom líder é como subir uma escada. Muitos degraus separam-te da sabedoria. Muitas vezes tropeças, escorregas e voltas a subir. Encontras quem precisa do teu amparo para se elevar, quem sobe sozinho ou aqueles que vão ficar para sempre nas primeiras escadas. Não porque sejam menos sábios ou válidos, mas porque são os guardiões daquele patamar. Noutros mais acima, revelar-se-iam inúteis, ou aplicando aqui o Princípio de Peter, teriam sido promovidos até atingirem o seu nível de incompetência.
Saúdo com sinceridade os corajosos que assumem as suas incapacidades. Gosto tanto destas pessoas, que acabarei por me tornar numa delas. Também eu, em algum momento do meu percurso, me tornarei incapaz e incompetente.
Atingirei o meu nível de incompetência quando em vez de uma líder, quiserem que atue como uma gestora. Warren Barris, um dos maiores teóricos sobre liderança, descreve de forma peculiar e provocatória a diferença entre líderes e gestores. Revejo-me nesta visão.
Um líder conquista o contexto; um gestor submete-se. O gestor, administra; já o líder, inova. O gestor foca-se nos sistemas e estruturas; o líder, foca-se nas pessoas. O gestor pergunta como e quando; o líder pergunta o quê e porquê. O gestor aceita o status quo; o líder desafia-o. O gestor faz a coisa bem; já o líder, faz a coisa certa.
Quando deixar de conseguir fazer a coisa certa, voltarei ao primeiro degrau, de onde provavelmente nunca devia ter saído.
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* Deal, T. E., & Peterson, K. D. (2007). Eight roles of symbolic leaders. In M. Fullan (Ed.), The Jossey-Bass Reader on Educational Leadership (2a ed., pp. 197-210). San Francisco: Jossey-Bass.