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Cidadania e Sociedade

FLAUTA DE BISEL: INCOMPREENDIDA E DIABOLIZADA

David Amaral

Bach, Haendel, Monteverdi, Purcell, Telemann, Vivaldi, entre outros, foram alguns ilustres compositores que usaram a flauta de bisel nas suas composições. Este sopro de madeira, ou aerofone, remonta à Idade Média, atingindo o seu apogeu entre os séculos XVI a XVIII, com destaque para o período Barroco. Possui uma embocadura com bisel, um corte longitudinal como o apito, tornando a produção sonora mais fácil do que os restantes sopros.

No início do século XX, esta flauta ganhou nova vida com a dedilhação moderna ou alemã, permitindo que fosse usada na iniciação musical, não só pela facilidade de execução da escala de dó maior, pela dimensão acessível a crianças, como ainda pelo seu reduzido preço, fruto da sua industrialização.

Foram várias as pedagogias e métodos musicais que introduziram a flauta de bisel, um pouco por todo o mundo, incluindo no ensino em Portugal. Com turmas grandes, salas com poucos instrumentos, a flauta tornou-se numa opção lógica, musical e económica, dos alunos realizarem prática instrumental.

No entanto, esta facilidade inicial é enganadora, pois este instrumento, num ensino artístico especializado e a nível profissional, apresenta um elevado grau de dificuldade, além do flautista ter de tocar os vários instrumentos da família da flauta de bisel, e são muitos.

Convido-vos a pesquisar a jovem Lucie Horsch e escutar, por exemplo, o tema Ornithology de Charly Parker, e entenderão a complexidade a este nível.

Estridente? Só quando mal tocada! Por alguma razão também é conhecida por flauta doce. Qualquer aprendizagem de um instrumento requer treino, persistência e o rácio adequado é de um professor para um, ou dois alunos. Contudo, a particularidade no ensino de Educação Musical é que cada turma pode ter até 30 alunos na mesma sala. Ensinar um instrumento musical a tantos alunos em simultâneo é uma tarefa que requer, entre outras coisas, ‘nervos de aço’.

Há cerca de um mês, um conhecido radialista publicou o momento em que o seu filho tocava flauta de bisel ao som de “River of dreams” de Billy Joel, enquanto ele cantava. Apesar de muitos elogios, surgem sempre alguns detratores deste instrumento. Como um dos coautores daquele arranjo para flauta integrado num manual escolar, senti orgulho na ligação que a música, de diferentes gerações, permitiu estabelecer. Missão cumprida!

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