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Cidadania e Sociedade

CONDUZIR, MAS PARTINDO E CHEGANDO

José Castro

Segundo o relatório de novembro de 2020 da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), constatou-se que de janeiro a novembro desse ano, dos 23630 acidentes com vítimas no Continente, resultaram 360 vítimas mortais, 1649 feridos graves e 27428 feridos ligeiros. Decorrente da Pandemia por Covid-19, é pois natural que estes números sejam inferiores aos registados no ano anterior para o mesmo período. Referir que o tipo de acidente mais frequente foi a “colisão”, embora o “despiste” fosse aquele que mais vítimas mortais causou.

Se o ano que passou e este são anos atípicos por causa dos confinamentos resultantes dos Estados de Emergência, os 35704 acidentes com vítimas de 2019 originaram um total de 45351 feridos e 626 vítimas mortais. Estes acidentes causaram, para além do sofrimento de inúmeras famílias, um custo de mais de 2 mil milões de euros. A importância de reduzir estes números a zero é pois uma necessidade humana e também económica. Nesse sentido, está a ser elaborado no âmbito da “Visãozero2030 “ pela ANSR e outras entidades, o Plano Estratégico de Segurança Rodoviária 2021-2030.

A velocidade sempre foi algo atrativo para o ser humano, tanto é que se procura bater recordes de velocidade nos desportos motorizados, assim como recordes em terra que já vão nos quase 1228km/h. A velocidade máxima, mesmo para veículos de produção, nomeadamente de um bom desportivo, é frequentemente limitada aos 250 km/h, podendo um super desportivo facilmente ultrapassar os 300 km/h. Se deixarmos os automóveis e formos para os motociclos ainda mais fácil e rápido fica atingir essas velocidades, com todo o risco que isso acarreta. É pois compreensível que a infração maioritária seja o excesso de velocidade e que o despiste seja o maior gerador de vítimas mortais.

A questão que se coloca é que ser automobilista ou motociclista não é o mesmo que ser piloto, que usam máquinas que nada têm a ver com a nossa realidade e o fazem com elevadas medidas de prevenção, proteção e em locais apropriados!

Nas últimas dezenas de anos deu-se um enorme avanço em termo de redução de vítimas rodoviárias. Mas quais serão as principais causas? Certamente uma melhor rede viária (veja-se o número de autoestradas em Portugal), sinalética apropriada assim como os elevados índices de segurança (ativa e passiva) dos automóveis. Basta uma breve pesquisa no EuroCAP ( European New Car Assessment Programme) e constatar isso mesmo. Claro que que se pode ir mais longe nomeadamente com as estradas autoexplicativas. Mas será que o papel do condutor terá evoluído assim tanto? Para isso basta pensar nas diferenças que existem para se obter licença de condução do passado para agora. Praticamente nenhumas! Para quando a simulação de situações de perigo, como travagens de emergência, desvios repentinos (lembram-se do teste do “alce”?) ou derrapagens em piso escorregadio. Reduzir a sinistralidade a zero é algo que jamais acontecerá sem a promoção de (novas) competências e uma elevada sensibilização e responsabilização do condutor. Não chega os automóveis serem cada vez mais “inteligentes” se o condutor desliga ou ignora o alerta de excesso de velocidade ou de fadiga! Por muito interessante e divertido que seja conduzir, as leis da física jamais serão violadas. Por muito inteligente e autónomo que seja o automóvel, jamais conseguirá parar instantaneamente! Assim sendo, que jamais o automóvel ou motociclo, como lazer ou trabalho, seja utilizado esquecendo o valor superior da sua Vida e da dos outros. Conduzir, mas partindo e chegando!

 

 

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