José Castro
O dia mundial da oração, ocorre na primeira sexta-feira de março. Embora, alegadamente, tenha sido criado por mulheres leigas cristãs, hoje ultrapassou a “crença” original e espalhou-se por quase todos os países, como verdadeiro ato ecuménico.
Mas existe alguma “vantagem” na oração, em rezar, ou como prefiro mais, em fazer uma prece?
A razão principal de alguns “torcerem o nariz” perante uma iniciativa destas é saber afinal para quem estamos a fazer a prece! Este é o ponto de todas as divergências. Pois alegadamente o “Deus,” o “Criador,” o “Eterno,” a “Força Universal”, o “universo”, o “Foco de Lu,” etc, (o nome que se lhe dá pouco interessa) é, perante uma visão materialista impotente para eliminar a “maldade” e o “sofrimento” que existe no mundo e ser responsável por guerras, mortes e torturas por “amor” a “Ele. Uma proposta de reflexão para quem tem uma qualquer crença é que o “seu” “Deus” seja submetido com sucesso ao paradoxo de Epicuro, esteja em sintonia com o argumento ontológico do Filósofo e Matemático Kurt Godel e com a proposta do Físico e ativista quântico, Amit Goswami.
Uma segunda razão para que a “oração” possa não fazer sentido para muitos é que se existisse alguma modificação da realidade, dos acontecimentos, ou esta contribuísse para os ditos “milagres”, haveria um “injustiça” profunda para com aqueles que não oram e ficava demonstrado que afinal esse “Deus” era tão frágil e tão inseguro que se deixava influenciar pela oração e “alegadamente” de forma proporcional ao número das ditas “orações” recebidas!
Estas e outras reflexões provavelmente ocorrem a todo o ser humano e dependendo da qualidade e profundidade das mesmas o levará a ser espiritualista, espiritualista laico, agnóstico ou ateu. Mais importante que o “título” é saber se aquilo que “segue” ou não “segue” faz de si um ser mais feliz, pacífico ( interna e externamente), ético e com compaixão por todos os Seres! Se assim é, deixe-se estar!
Mas o que é mesmo uma oração ou uma prece autêntica?
Não se insere aqui a mera repetição contínua de palavras, nem a “pedinchice” egoísta ao “além”, infelizmente muito comum! Uma prece é em primeiro lugar um momento de meditação, de autoconsciência profunda onde prevalece a gratidão, aceitação, o pensamento e emoção positivos sentidos dirigidos a todos os Seres. É o momento onde acedemos ao “eu” profundo, à nossa consciência (e inconsciência!) onde “tudo” acontece. O momento onde se reforça a união Universal, por estarmos em sintonia e ressonância com elevada “vibração” mental, que nos pacifica, fortalece e nos intui para as melhores práticas de cidadania em prol da construção de um mundo cada vez mais profundo e ético para todos os Seres.
Tendo em conta esta proposta de oração quem fica impedido de a fazer?
Absolutamente ninguém!
Todo o ser humano se assim o desejar o pode (e deve) fazer! Não é a crença ou crença “da não crença” que o impede, não é o título académico ou ausência dele, não é o ser mediático ou não mediático, não é o ser rico ou pobre, não é estar em grupo ou isoladamente, impeditivo de tal prática. Nada o impede de orar, de fazer a sua prece autêntica e sentida, de entrar em meditação. Apenas a sua decisão de o fazer ou não!
Mas podemos ir mais longe! Afinal há alguma evidência científica dos benefícios da prece?
Curiosamente, não faltam evidências dos benefícios da prática da oração/meditação para o bem-estar físico, mental e espiritual. Estudos evidenciam que, quer o coping religioso/espiritual, quer a meditação, induzem a “produção” natural de neurotransmissores responsáveis pelas sensações de plenitude e felicidade, em detrimento de outros responsáveis por situações de stress, tristeza, etc. Assim, nem que seja (numa fase inicial) um ato “egoísta” a pensar apenas na sua saúde, porque não o faz?
Mas para além da nossa melhoria do nível de saúde física, mental e espiritual haverá mais alguma vantagem? (se achar que esta ainda não é suficientemente “forte” para começar!)
Outras evidências científicas indicam que os nossos pensamentos e emoções não afetam apenas o “agente” pensante! Mas também todos aqueles que nos rodeiam, pois induzimos no outro, através dos neurónios espelho, a se sintonizarem ao nosso elevado e autêntico estado de positividade mental.
Mas ainda podemos ir mais longe! Será que práticas profundas de oração/meditação têm um efeito à distância? Os argumentos a favor dos “acontecimentos não locais”( Einstein, Podolsky e Rosen ) são cada vez mais consistentes!
Finalizar esta reflexão com a frase de Jean-Yves Leloup “ Deus não existe![… eu rezo para Ele todos os dias].”