Antonieta Dias
Um dos ciclos mais complicados que vivenciamos é o que se relaciona com o fim de vida.
Por mais que estejamos preparados existe sempre uma enorme esperança que esse dia ainda estará longínquo.
E mesmo os profissionais da saúde nem todos estão habilitados para prestar os cuidados de conforto que irão amenizar a passagem para o Oriente Eterno.
A consciencialização de que o doente em fim de vida está associada ao “doente moribundo”, exige que o tratamento desse paciente seja direcionado no sentido de minimizar a angústia que se gera no doente, nos seus familiares e nos seus amigos. Daí a importância que deve ter a qualidade de vida do paciente em todas as fases de transformação decorrentes da evolução do seu ciclo de vida e da evolução da sua patologia.
Na prestação de cuidados ao doente em fim de vida é obrigatório aplicar em todas as abordagens clínicas, os conhecimentos científicos destinados a minimizar e a controlar o sofrimento, criando as medidas de conforto para que o tempo que antecede a fase final da vida seja vivenciada de uma forma emocionalmente estável, fisicamente controlada com atitudes que respeitem os princípios éticos e morais.
O doente incurável é muitas vezes considerado como uma frustração, uma derrota para quem quer cuidar, pois as questões da morte ainda são um tabu para um elevado número de pessoas, que não a encaram bem.
Na década de 60, a Inglaterra preocupada com este grupo de doentes revolucionou os cuidados médicos com a criação dos cuidados paliativos, este modelo de tratamento de doentes foi mais tarde alargado ao Canadá, aos Estados Unidos e no final do século XXI, à Europa.
Desta forma na tentativa de aliviar o sofrimento dos doentes incuráveis e perante a incapacidade dos serviços de saúde tradicionais (hospitais) surgiu a necessidade de formar uma especialidade de cuidadores para estes doentes terminais.
Com base nesta realidade social, surgiram então os cuidados paliativos para poderem assistir os doentes com doença prolongada, humanizando os cuidados de saúde prestados a estes doentes.
Porém, em pleno século XXI ainda não temos instituições suficientes para alojar o enorme número de pacientes que necessitam destes cuidados especializados.
Em Portugal os serviços qualificados que temos carecem de um reforço pois a procura é muito maior que a oferta e as instituições que temos disponíveis ficam muito aquém das necessidades.
Quase todas as famílias têm ou já tiveram um doente destes no seu seio familiar, muitos deles com perda da funcionalidade e altamente pendentes.
A maioria dos doentes que necessitam de ser acompanhados em cuidados paliativos não são moribundos.
E se existirem unidades suficientes para cuidar adequadamente estes doentes, concluiremos que o seu tratamento é muito menos oneroso se estiverem integrados nos cuidados paliativos, do que se for efetuado nos serviços de saúde tradicionais porque os cuidados paliativos são cuidados preventivos, e estão preparados para responder antecipadamente ao conjunto de sintomas associados às doenças crónicas terminais.
Obviamente que os critérios de tratamento exigem a intervenção de equipas multidisciplinares cujo pivôt assenta no doente e na família, aos quais terão de dar apoio qualificado e humanizado até à sua morte, dando dignidade à pessoa no seu todo de forma adequada e indispensável ao bem estar do final de vida.
Morte (do termo latino mors) óbito (do termo latino obitu), falecimento ( falecer+mento), passamento ( passar+ mento), ou ainda desencarne (deixar a carne), são sinónimos usados para se referir ao processo irreversível de cessamento das atividades biológicas necessárias à caracterização e manutenção da vida em um sistema outrora classificado como vivo.
Após o processo de morte o sistema não mais vive, e encontra-se morto.
Durante o nosso tempo de vida experienciamos encontros e desencontros, momentos de chegadas e partidas, enfrentamos muitas despedidas.
Por mais doloroso que seja o dizer adeus, é preciso estarmos preparados para poder acolher a morte pois ela irá ser partilhada por todos.
Ao longo da nossa vida devemos fazer a preparação da morte.
Apesar de a vida ser misteriosa, cujos mistérios se vão revelando aos poucos, a morte é o grande mistério que só se revela com o fim da vida.
Se hoje nos despedimos de um ente querido, no dia de amanhã outros se irão despedir de nós.
O mais importante é conseguir realizar os sonhos mesmo que sejam muitos os caminhos que teremos de trilhar, e ter sempre espaço nos nossos corações para guardar o amor daqueles que connosco viveram.
Li em qualquer lugar que “dizer adeus é trocar as expectativas e as possibilidades do futuro pelo passado. É perder o presente e o futuro, e ficar com a história e memória de quem partiu. É perder a presença e ficar com a ausência e a saudade.”
O fim de vida não é felicidade mas é aperfeiçoamento.
O mais importante da vida não é o ponto de partida, mas sim a caminhada que fazemos e os frutos que semeamos.
E nenhum de nós sabe se aquele “até logo “é o último que dizemos.