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Saúde e Vida

O QUE É UMA CATARATA E QUAL O SEU TRATAMENTO?

Ivo Filipe Gama – TROFA SAÚDE 

A catarata consiste na opacificação da lente natural do olho humano, sendo a causa mais frequente, o envelhecimento. O único tratamento eficaz é a cirurgia.

A cirurgia de catarata está indicada quando a catarata é significativa ao ponto de conduzir a uma diminuição significativa da acuidade visual ou uma diminuição da acuidade visual que condicione as atividades de vida diárias do doente, ou se causa sintomas, como deslumbramento, dificuldade na visão noturna, ou perturbação na visão das cores, entre outros. Também pode ser realizada para corrigir erros refrativos, como a miopia, a hipermetropia e o astigmatismo, e, em alguns casos, para permitir uma melhor visão ao perto sem óculos, como referido mais à frente.

A cirurgia consiste na extração do cristalino através da fragmentação mecânica do cristalino com o uso de microinstrumentos, da emulsificação destes fragmentos por ultrassons e sua aspiração, sendo removidos completamente do olho.

A cirurgia de catarata exige uma preparação previa (-30min antes da cirurgia) com a aplicação de colírios que causam uma dilatação pupilar. Ao contrário do que as pessoas pensam a cirurgia não é habitualmente feita a laser, mas sim por ultrassons, tal como referido, embora se possa a um tipo de laser, o laser femtosegundo, para realizar alguns passos da cirurgia em casos muito particulares e nas Instituições de Saúde que têm este caro equipamento disponível, mas, mesmo nestes casos, é sempre necessária a aspiração e manipulação intraocular com microinstrumentos para completar a extração total do cristalino opacificado.

 

Depois da extração do cristalino estar concluída, é introduzida uma lente artificial intraocular (LIO. As dioptrias que esta lente deverá ter (a potência ou graduação desta lente) são calculadas para cada doente com base numa avaliação pré-operatória completa que inclui um exame complementar essencial que se denomina de biometria. Este exame permite determinar as dimensões e caraterísticas do olho e assim calcular a potência da LIO necessária para cada caso. As LIOs artificiais podem ser feitas de vários materiais (acrílicas, silicone, etc), mas são totalmente compatíveis com as estruturas do globo ocular – biocompatibilidade.

Esta LIO corrige, totalmente ou parcialmente, erros refrativos que o doente apresente, como a miopia, a hipermetropia ou o astigmatismo. As LIOs monofocais corrigem estes erros refrativos para longe e permitem uma boa visão ao longe, mas os doentes precisam de óculos para ver ao perto. Alguns tipos de LIO, denominadas LIOs Premium (LIOs multifocais e LIOs de foco estendido/ampliado – EDOF) ainda permitem corrigir a presbiopia, ou seja, a dificuldade em ver ao perto sem óculos que surge com a idade. As LIOs multifocais permitem a visão sem óculos a diferentes distâncias (longe, meia-distância e ao perto), mas estas LIOs não podem ser implantadas em todos os doentes (porque exigem determinadas condições para ser possível o seu implante intraocular) e a visão de contraste é geralmente inferior à das LIOs monofocais e podem acontecer, em alguns doentes, fenómenos relacionados com a luz, como um maior deslumbramento, entre outros. As LIOs EDOF, embora não permitam uma visão ao perto sem óculos tão boa como as LIOs multifocais, permitem, para além de uma boa visão ao longe, uma boa visão a meia distância, que as LIOs monofocais não oferecem, e são menos propensas a causar efeitos indesejáveis, e, se forem de tipo não difrativas, permitem uma visão de contraste e uma qualidade visual quase igual ao das LIOs monofocais, com os benefícios adicionais que as LIOs EDOF oferecem. A escolha da LIO para cada caso é feita de acordo com a indicação do médico oftalmologista e as expetativas e preferências do doente. Assim, a cirurgia de catarata pode ser uma cirurgia refrativa, que permita uma independência ou menor dependência do uso de óculos.

A cirurgia de catarata normalmente é rápida, normalmente entre 10-20 minutos, mas às vezes pode durar menos, às vezes mais, conforme o tipo e a dureza da catarata e a colaboração do doente, pois esta cirurgia é feita geralmente sob anestesia tópica (sob a aplicação de gotas) e a injeção intraocular de anestésico, na parte anterior do globo ocular. Quando necessário, podem ser empregues outros tipos de anestesia, até mesmo, raramente, anestesia geral.

A recuperação é variável, mas geralmente é rápida, contudo em alguns casos pode demorar um mês ou até mais. Os doentes com cataratas mais avançadas podem sofrer uma recuperação mais demorada após cirurgia. No pós-operatório, o doente necessita de seguir todas as recomendações e cuidados referidos pelo seu médico e é fundamental que cumpra com o tratamento prescrito e que inclui colírios antibióticos e anti-inflamatórios, e, em alguns casos, quando necessário, lágrima artificial para lubrificação e cicatrização da superfície ocular ou, nos casos de doentes com pressão intraocular elevada, colírios que baixam a pressão intraocular. A taxa de sucesso é muito alta. No entanto, a visão final pode ser limitada por outras patologias oculares que o doente tenha no pré-operatório, ao nível de outras estruturas oculares, como a córnea, a retina, o nervo ótico, etc. Os benefícios da cirurgia de catarata vão para além dos benefícios visuais (principal objetivo) e podem incluir um melhor controlo a longo prazo da pressão intraocular nos doentes com determinados tipos de glaucoma no pré-operatório e até mesmo facilitar o seguimento posterior de outras patologias oculares.

Os avanços tecnológicos na área da cirurgia de catarata, tornaram este procedimento cirúrgico muito seguro, com a redução progressiva do tamanho das incisões oculares, sendo atualmente microincisões, assim como do tamanho dos instrumentos cirúrgicos. Alguns estudos recentes sugerem que o risco de contrair infeção por coronavírus é reduzido, porque esta cirurgia não causa aerossóis significativos. Além disso, o bloco operatório constitui atualmente um dos sítios mais seguros, pois na maioria dos Hospitais todos os doentes que vão ser submetidos a cirurgia são testados antes da cirurgia e assim todos os doentes que estão no bloco operatório estão negativos para o coronavírus. Além disso, os profissionais de saúde costumam ser testados frequentemente para o coronavírus e por isso o risco de os doentes ficaram infetados no bloco operatório é muito baixo.

As complicações são geralmente muito raras. No entanto, podem acontecer: 1) edema ou inchaço da córnea, que causa visão turva mas que geralmente é transitória; 2) inflamação pós-operatória; -3) infeção intraocular (endoftalmite), que é extremamente rara, menos de 1 caso por cada 1000 cirurgias, mas quando acontece é geralmente muito grave, condicionando cegueira; – 4) descolamento de retina, que também é muito raro, mas que pode condicionar cegueira ou défice visual significativo, 5) hemorragia coroideia, que é extremamente rara, mas extremamente grave, entre outros. Podem ocorrer ainda diversas intercorrências durante a cirurgia, na maioria das vezes, de fácil resolução.

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