António Coito
Realmente, ler obras de Gil Vicente de forma autónoma tornar-se-á cada vez mais difícil, principalmente pela camada mais jovem. Eu fi-lo pela primeira vez e gostei!
Antes de introduzir aquilo que me levou a escolher este título, será mais fácil dar algumas indicações sobre o nome Gil Vicente, que muitos já ouviram falar certamente…
Gil Vicente foi o ‘’Pai do Teatro Português’’. Conseguiu ele, com recurso a linguagem cómica e personagens-tipo (personagens representativas de uma classe social ou grupo de pessoas), criar peças de teatro onde vinham denunciadas, criticadas e apresentadas algumas mudanças que afetavam a sociedade do século XVI.
Sabem qual o motivo que me fez escrever sobre isto? Porque a nossa sociedade portuguesa está a assistir a uma nova decadência de valores morais. (e nem a vinda de D.Sebastião, numa noite de nevoeiro, irá salvar esta nação…)
Eu queria que este Grande Homem estivesse aqui, com a sua inteligência divina, a escrever os seus autos, as suas farsas, as suas obras de arte, onde contemplaria tantas questões que atormentam os nossos dias…
Se analisarmos os temas que marcam a atualidade, é claro que José Sócrates teria lugar no paraíso, sem ter que ir ao cais das barcas. (apoiando-me um pouco da ironia que movia o dramaturgo)
Mais, os contradizeres da Drª Graça Freitas (Diretora Geral da Saúde), que dizia que a Covid-19 não chegaria a Portugal, também seriam motivo para grande cómico de situação (imaginado eu, que Gil Vicente era bem capaz de enaltecer a sua figura, dizendo que esta é a exímia das mais exímias – atenção que não estou a desvalorizar o trabalho da senhora em questão…).
Tantas vítimas seriam alvo de pintura numa tela ‘’teatral’’…
Até a história das vacinas… A vacinação para a covid-19 é algo inédito (não seria nada que Gil Vicente não esperasse…vindo dos corruptos deste país). Era previsível tal acontecimento, mas, em momento algum se imaginava que fosse uma realidade tão rápida. A ética aplicar-se-ia se tivéssemos a possibilidade de ser vacinados na respetiva vez, respeitando os grupos prioritários estabelecidos, porém, é algo impossível no nosso país. Facilmente percebemos que há corrupção e, os governantes, que deviam dar o exemplo, são os primeiros a desrespeitar os valores morais mínimos exigidos, face a esta situação. (já estavam a ser vacinados, quando havia profissionais de saúde sem estarem com a 1ªdose).
Ou seja, para além do felizardo do Sócrates, que iria com luz verde para o paraíso (um paraíso com Diabo), o pobre Juiz Ivo Rosa seria motivo para grandes gargalhadas (talvez através de um cómico de linguagem, depois de tanto disparate que se ouviu no seu discurso…) e a vacina como algo maravilhoso e nunca antes visto!
Para ser sincero, a ética seria uma das temáticas mais intensificadas e reforçadas nestas obras…
Os tempos são outros, mas há coisas que não mudam, adaptam-se aos contextos!
Na verdade, nem com a expressão latina que inspirava o autor, «ridendo castigat mores», ou seja, a rir se castigam os costumes, a sociedade deste tempo teria a capacidade de corrigir os costumes…já estão demasiado enraizados!