Raquel Evangelina
Guardo imagens. Imagens de tempos felizes, fragmentos de instantes, que não foram registados, mas que cá continuam, em pedaços, algures na minha memória que, por vezes, vou resgatando em dias que a saudade de tudo aperta. Guardo cheiros. Cheiros que me levam a um lugar bonito, mesmo que na realidade não saia do sítio onde estou. Cheiro a maresia. Cheiro a bolo acabado de sair do forno. Cheiro a terra molhada quando chove. O cheiro do perfume que o meu pai usava, quando era miúda e me dava colo, que, ao lembrar, me dá logo a sensação de que estou protegida e segura. Guardo sons. O som daquela música que anda sempre algures a tocar em modo repeat na minha mente. O som da chuva a bater contra a minha janela. O som da tua gargalhada. Este é talvez dos sons mais bonitos que me lembro, sabias? Guardo sensações. O vento a bater na minha cara quando aprendi a andar de bicicleta. O nervoso miudinho de quando falei pela primeira vez num palco para uma audiência numerosa. A insegurança, com a qual me vou debatendo ao longo dos anos, mas que por vezes ainda me “ataca”. E a felicidade, daqueles dias em que mesmo sabendo que nada dura para sempre, fui feliz, à minha maneira. Guardo memórias. E por vezes, ainda me agarro a elas. A vida é para a frente. Sei-o e sigo-me por isso. No entanto a vida também são as memórias. Sou o que sou hoje por tudo o que me aconteceu no meu caminho até aqui. Sou feita de memórias. Não sou escrava delas. No entanto guardo-as algures, umas com carinho, outras nem tanto. Mas guardo. O que seria da vida sem elas? |
