Soni Esteves
A leitura está sempre presente nas nossas vidas e, muito particularmente, nas escolas. Contudo, essa presença em forma de festa costuma ocorrer entre os meses de abril e maio, na chamada Semana da Leitura. É assim uma espécie de festejo em torno do livro, qual santo da nossa devoção, que instiga a escola e famílias a participar nesse ânimo coletivo, nessa festa das palavras, que nos faz viver a escola de modo diferente. E sim, as semanas da leitura são sempre momentos especiais.
Um passeio pelas páginas dos agrupamentos de escola permite perceber as diferentes dinâmicas, mas, seja qual for a escola ou o nível de ensino, lá estão as atividades e os testemunhos a dar conta do muito que se fez, do muito que se leu, do tanto que se aprendeu, lendo. São leituras em grupo, em voz alta, rodas de leitura, dramatizações, leituras criativas, leituras com música; vivem-se momentos de partilha: chás com livros, (sobre)mesas de leituras, cafés com poemas, histórias cozinhadas em família… e tantas, tantas iguarias partilhadas por quem gosta de saborear a doçura da palavra, o sal de uma aventura, o tempero justo de uma boa narrativa, ou embarcar num poema para acordar muito longe, dali a nada, sem sair do lugar.
É também nesse espírito que acontecem os encontros entre os leitores e os autores, os ilustradores, os contadores ou cantadores de estórias que trazem o cheiro bom da palavra dita e da cor que ilustram histórias. Costumam entrar nas escolas com o entusiasmo na voz, a tinta a soltar-se dos dedos, como quem semeia sonhos, ou liberta pássaros num ensaio de voo até à liberdade. É costume, nessas alturas, as bibliotecas encherem-se de uma música feita de palavras e silêncios que fazem vibrar por dentro quem se dispõe a escutar e a sentir.
Neste ano, viveu-se a festa de forma diferente, em alguns aspetos, pode dizer-se, de forma mais intimista, com atividades muitas vezes circunscritas a uma turma, mas com igual sentimento de comunhão e partilha, do despertar para a beleza e grandeza traduzida em palavras.
Alguns encontros fizeram-se à distância. Também tive essa experiência. A minha história “A casa da avó”, primorosamente ilustrada por Joana Antunes, viajou por todas as escolas do concelho de Amarante, numa oferta da União de Freguesias de Amarante, no âmbito da 2ª edição do Prémio Ilídio Sardoeira. Os encontros fizeram-se (via zoom), e os alunos surpreenderam-me com as suas perguntas e o entusiasmo por aquela história simples que decorre num cenário amarantino, mas cuja temática é, afinal, universal. Não nego que teria preferido um encontro presencial, mas dado o momento que vivemos, é muito bom podermos contar com os professores e as bibliotecas escolares, perceber que continuam a ser motor para a construção de novas histórias e para a descoberta ou o alicerçar do gosto pela leitura, nesse contágio bom que é o da partilha de emoções, seja qual for a circunstância.