Maria João Covas
Quando se fala de livros estamos, simultaneamente, a falar de autores de textos e de leitores.
O processo começa com o autor, quem escreve. O criador de uma história original. Aquele que recria uma História de alguém que existiu e que se assim não fosse se desvanecia nas brumas do esquecimento. O poeta que nos faz sonhar e viajar para além dos sentidos. O dramaturgo que não sendo ator acaba por escrever as emoções de quem à nossa frente as torna suas.
O autor é, sem margem para dúvida, quem imagina, o criador, aquele que se deixa levar pelas personagens que, por vezes, o ultrapassam. Cabe ao escritor o primeiro canto, e o mais importante, deste triângulo que ao se unir cria a verdadeira dimensão literária.
Depois temos o texto, criação do autor, mas também do leitor. O texto acaba por ter duas leituras: a de quem escreve e a de quem lê. Quem redige fá-lo com algum objetivo, pretendendo que seja passada uma mensagem. Quem lê fá-lo à procura da sua mensagem.
E se podemos classificar um texto, um livro, quanto à sua qualidade de escrita, construção e estrutura narrativa, não podemos, de todo, fazer considerações acerca do gosto individual e subjetivo. Eu posso ter uma obra de arte a nível literário, mas da qual não gostei ou, por outro lado ter um livro mais fraco a nível da qualidade literária, mas cuja mensagem me tocou, e era aquilo que eu, leitor, precisava naquele momento.
E chegamos ao leitor, aquilo que sou, por excelência. Esse ser sem o qual também não haveria livros. Ninguém escreve, e muito menos publica, para ninguém o ler. Mas este(s) ser(es) são especiais. Primeiro são muitos e cada um com a sua opinião. E depois estão vivos, e aos estarem vivos, podem não gostar do livro ontem, gostar hoje e adorá-lo amanhã. Qual a opinião certa? Todas.
Um livro, e a sua leitura, muda, no que ao gosto diz respeito, consoante a nossa (leitor) vida, disposição, pensamento. A literatura tem a vantagem de embora o texto seja fixo e sempre o mesmo, a sua leitura pode mudar ao longo do tempo, mudando também o prestígio e o valor da própria obra, consoante a visão dos seus contemporâneos ou das suas leituras futuras.
Tudo isto para dizer o que se poderia resumir em dois parágrafos:
Primeira: a não ser que o livro não tenha qualidade literária não podemos afirmar que um livro é mau, podemos dizer que naquele momento não gostámos.
Segunda: não devemos ter vergonha de dizer que gostamos de um livro considerado menor. Gostos não se discutem, e o que hoje não presta, amanhã pode ser bom. Que o digam alguns escritores mal-amados no seu tempo.
Na verdade, o importante é ler e tornar o livro, seja ele qual for, nosso, pois só assim temos o triangulo completo e perfeito.