Maria João Covas
E de repente estou a ler bastantes autores portugueses.
E de repente estou a gostar de ler os novos autores nacionais.
Pois é. A tendência nacional é para dizer mal do que se faz no país. Quer seja a nível da arte, quer seja a nível da produção de bens.
Mas se olharmos com atenção, afinal não estamos assim tão mal. A vacinação está a progredir, o desemprego baixou e estamos (ou será apenas impressão minha), a publicar mais autores contemporâneos de qualidade.
A tendência abriu-se com alguns que já podemos considerar clássicos: Afonso Cruz, Valter Hugo Mãe, José Luís Peixoto ou João Tordo. Mas, de súbito temos autores que nos levam por textos menos complexos, mas que fazem antever uma qualidade que nos poderá surpreender.
Já aqui nesta coluna debati o problema do primeiro livro e como tal não me vou repetir. Mas os nomes de Iris Bravo, Bruno M. Franco, Lénia Rufino ou Lourenço Seruya começam a entrar no nosso léxico e a fazerem parte do núcleo de autores que nós, ou pelo menos eu, iremos ler quando houverem mais novidades.
Ver que as editoras não se assustam com primeiras obras, ou que não deixam de as publicar, se a qualidade assim o merece, levam-nos a ter confiança na seleção que as mesmas fazem dos manuscritos que lhes chegam às mãos. Obviamente que outros, bons, muito bons (e estou a pensar em Nuno Franco Pires) continuam a não ser publicados tornando o setor de alguma forma injusto. Mas e sejamos autênticos, também é verdade que há muito tempo não nos chegavam às mãos tantos primeiros livros e de tão boa qualidade. Pelo menos às minhas não chegavam.
E depois deste interlúdio, extenso, chego a uma novidade que não poderia deixar de dar: ao aparecimento de uma nova editora. Quando era de supor que, continuando em pandemia, o mercado estivesse fechado, sem leitores e, consequentemente, sem compradores eis que aparece “ Visgarolho Editora” que se apresenta como e cito: “Pequena editora independente, movida a sonhos e elevadas doses de inocência. Propomo-nos publicar bons livros de autores de língua portuguesa, nos géneros romance e conto, acarinhando e promovendo cada um deles. Este é um projeto de amor aos livros.”, sendo que, o seu primeiro lançamento, é o novo livro de Rui Conceição Silva.
A primeira coisa a esclarecer, antes que achem que tenho algum interesse escondido, é confessar que não conheço ninguém na editora, nem nunca li nenhum livro do Rui Conceição Silva. O que me leva a falar deste fenómeno que, eu pelo menos, não via chegar é a vontade de publicar romances (e eu sou assumidamente uma mulher dos romances), e de autores nacionais. De repente aparece esta ideia, patrocinada por outras editoras, que o amor aos livros e ao sonho tem que ser compatível com o lucro que, obviamente, as editoras têm de ter.
Na verdade hoje o que queria mesmo era agradecer às editoras, aos editores a quem rege o negócio dos livros em Portugal esta onda de apoio aos nossos jovens autores, este apoio à queles que nos permitem sonhar, descobrir o mundo e o país, que mantêm a alma Lusitana viva através das artes da escrita.
Hoje, Camões estaria orgulhoso dos portugueses e dos seus escritores.