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Cidadania e Sociedade

VAMOS FALAR SOBRE BULLYING?

Marta Sousa

Li um artigo de opinião sobre bullying nas escolas em que a autora defende que é falta de autoestima e de gestão de emoções dos alunos que gera este problema. Gostei do artigo porque não se concentrava apenas em quem sofre, mas também em quem faz.

Já imaginaram como é para os pais descobrirem que o seu filho faz bullying a outras crianças? Como lidar com estas situações quando nem mesmo os adultos estão livres delas? Sim, porque a maioria das pessoas esquece que existem outros géneros de bullying como o do trabalho e da Internet.

Agora que estamos nas férias escolares, é que escrevo sobre este tema, o que pode parecer estranho, mas este tema é sempre atual, afinal a qualquer altura podemos encontrar casos de cyberbullying e bullying no trabalho. O cyberbullying já é muito falado, mas continua a acontecer. Se os jovens já tem algumas noções de como se defender, existem ainda pessoas com mais idade, idosas, por vezes, que não sabem como reagir. Para quem tem dúvidas, a melhor reação num caso de cyberbullying é bloquear e denunciar o agressor. O problema é que a maioria dos agressores têm várias contas falsas e continuam a insistir e a ofender as suas vítimas. Por isso, tenham atenção a quem adicionam nas suas redes sociais e bloqueiem todas as contas que tiverem comportamentos agressivos ou invasivos.

 

Gostamos de pensar que tudo está relacionado com a família e a infância, mas para mim, a maioria dos casos não começa na família, mas sim, como interpretamos as nossas emoções. O significado que damos às ações e comportamentos da nossa família, ou seja, às coisas que acontecem connosco. Todos temos uma forma única de sentir o mundo

Se pensarmos assim, tudo parece uma questão de dar a correta semântica, quase como analisar uma frase, perceber o que ela significa e como se compõe. Este é o aluno que é tímido, ou complemento direto, este é o colega mais extrovertido e agressivo que alguns colegas incentivam a reagir para não ficar «mal», como se fossem um verbo, e aqueles são os que apenas fogem da questão, como se fossem reticências. Todos já tivemos nalguma frase como esta, nem que seja como reticências. Fora, o cyberbullying, este exemplo pode acontecer tanto nos casos de bullying no trabalho como nas escolas. No entanto, na resolução da situação só dois elementos são estudados e precisam de ser corrigidos: quem sofre e quem faz.

Penso que no caso das escolas em especial, não existam casos em que apenas um aluno possa ser responsável, afinal é toda uma turma ou um grupo de amigos que fazem o bullying ser possível.

Já pensaram que nos casos extremos (e horríveis) que aconteceram no estrangeiro quando estes casos começaram a ser levados a sério, em que a vítima reage ao bullying que tem vindo a sofrer durante algum tempo e mata uma turma quase inteira? Se a culpa fosse de um só aluno, mataria apenas um bully, certo?

É difícil até para adultos controlarem as suas emoções quanto mais crianças. Apesar de existirem muitos livros a explicar como conseguir ter autoestima e com sugestões como gerir as nossas emoções, é muito complicado, sendo mesmo quase impossível a atingir a autoestima plena e o controlo total das emoções. Por isso, muitas pessoas quando ouvem falar destas soluções têm pouca fé nelas e não conseguem ver como podem resolver a situação. Afinal, não conseguimos comprar a autoestima e a forma de gerir emoções no supermercado, é um processo longo em que a escola e a vida não esperam até ser alcançado.

O problema (e a solução) das emoções é que apesar de parecerem nubladas para quem sente, são geralmente muito claras para quem as observa. Por isso, quando estiverem a sofrer bullying, sei que custa, mas tentem parar os vossos pensamentos habituais e vejam a situação como se fossem outra pessoa de fora, sem ser afetada, para encontrar o verdadeiro significado do que está a acontecer. Se fosse outra pessoa com a mesma insegurança, as pessoas que vos fazem sofrer provavelmente fariam o mesmo. Qual é o sentimento que aquela pessoa que é agressiva quer demonstrar? Para quem se quer mostrar quando ela se torna agressiva? A maioria das vezes, é só querer mostrar que tem poder aos colegas, mas quando está sozinha é completamente diferente.

Até mesmo as pessoas que fazem cyberbullying querem agredir e afetar sem qualquer razão ou apenas por se sentirem inferiorizados ou ignorados. Isto não é desculpar, porque todas as situações devem ser denunciadas e as pessoas responsabilizadas. É compreender que o agressor está a reagir mais ao que sente do que por ter sentimentos negativos por quem sofre. O que nem sempre é fácil de compreender para quem sofre com estas situações.

Gostava de dizer aos pais de filhos que sofrem bullying e aos que o fazem que ouçam o que os vossos filhos não falam e vejam o que eles sentem. A vergonha e a dor de não se sentir bom suficiente, a necessidade de se impor para não sofrerem, são alguns sentimentos que os vossos filhos podem estar a sentir. Estranho como dois lados opostos podem sentir a mesma coisa, não é?

É importante que quando as vítimas crescerem não sintam muita raiva de quem lhes fez bullying, porque faz mais mal a quem sente do que ao culpado, e se um dia voltar a acontecer no trabalho ou na Internet, elas saibam que merecem mais e melhor e que podem procurar outro emprego com melhores condições ou outras relações com quem se sintam seguras.

Afinal, ter autoestima é não permitir que nos tratem mal, não é verdade? Muitas vezes, isso significa mudar de local onde nos encontramos e de pessoas com quem nos relacionamos. Seja na escola, trabalho ou online.

 

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