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Cultura, Literatura e Filosofia

ENTREVISTA A LUÍS FERREIRA

Raquel Evangelina

Hoje trago-vos uma pequena entrevista ao escritor Luís Ferreira. O Luís é natural do Barreiro e, tal como eu, aliás, bem mais que eu, é um entusiasta do Caminho de Santiago. É o escritor que conheço com mais obras de ficção sobre a temática e ler um livro dele faz-me sempre voltar um pouco ao Caminho, mesmo sem sair do lugar.

Luís Ferreira

Entrei no mundo da escrita do autor com o livro “O Peregrino”, entretanto li também o “Entre o Silêncio das Pedras” e encontro-me a terminar o “Porque Caminhas?”. Os três livros relatam experiências diferentes, todas passadas durante peregrinações a Santiago.

E foi embalada nesta mais recente leitura que decidi desafiar o escritor a responder-me a algumas questões. Desafio aceite, não fosse ele um bom peregrino jacobeo.

Passo então a transcrever.

Raquel – Como é que o Caminho entrou na sua vida? E quantas vezes já o fez?
Luís – Desde jovem que comecei a ir a Santiago de Compostela. Sempre foi um local que considerei mágico e que me prendia de certa forma. Ficava encantado com toda a atmosfera da cidade e sobretudo com a chegada dos peregrinos à Praça do Obradoiro. Passava muito tempo a observar atentamente todas aquelas manifestações de amizade, júbilo, todas aquelas emoções que transbordavam em momentos únicos e sempre me interroguei o que levava pessoas a caminhar tantos quilómetros debaixo das condições atmosféricas tão distintas e ali, naquele local, manifestarem-se daquela maneira. Um dia decidi eu, também, ter essa experiência e isso mudou a minha vida. Já perdi a conta das vezes que já peregrinei, comecei a fazer o Caminho duas vezes por ano, depois fui aumentando as distâncias e comecei a ocupar grande parte do meu tempo de férias e, na verdade, tirando o ano passado, pelas razões que conhecemos, nunca mais consegui parar de caminhar, de me dirigir a Santiago a pé, pelo menos uma vez por ano, é como uma necessidade anual.

R. – Quais foram as principais mudanças que sentiu no seu regresso à rotina após a primeira experiência no Caminho?
L. – Muitas mesmo, é como se voltasse a um novo mundo, que de certa forma tinha esquecido que existia, é como encarar a uma realidade distante que prende e sufoca. No caminho somos felizes com tão pouco, sentimos uma forte espiritualidade que permite encontrar uma paz interior, possuímos uma liberdade única como se fossemos parte do mundo e este de nós. Daí que quando regressamos e somos obrigados a encarar as rotinas, os horários, as correrias, o stress, custa sempre um pouco. No entanto, o caminho fornece-nos uma energia e até mesmo algumas mensagens, que permitem encarar a vida de uma outra forma, sendo provavelmente a que mais se destaca a de encontrar pontos de equilíbrio.

R. – Alguma vez, por questões físicas ou emocionais, teve vontade de desistir a meio do caminho?
L. – Já tive algumas lesões ao longo dos diversos caminhos que fiz, felizmente nada de muito grave que impossibilitasse continuar. Poderei dizer que algumas dessas situações me obrigassem a parar se estivesse noutro contexto, mas a força de vontade, a força mental e o querer que tenho sempre que estou no Caminho é muito maior e permitiu-me ultrapassar esses obstáculos.

R. – O Luís tem, entre outras, 7 obras publicadas sobre a temática do Caminho. Tem mais alguma em mente?
L. – Escrever sobre o Caminho é algo marcante para mim, aliás já fiz diversas tentativas para escrever sobre outra coisa e acabo por desistir por não me entregar o suficiente e não possuir o mesmo entusiasmo, daí que decidi concentrar a minha escrita apenas nessa temática. Nada melhor do que fazer algo de que gostamos, fluí melhor e daí que sendo um apaixonado pelo Caminho, é nele que encontro a inspiração para as minhas obras. Contudo, depois temos o outro lado, o mercado livreiro e o público, que ditam sempre regras e que de certa forma condicionam estarmos também, como autores, mais motivados em fazer aparecer uma nova obra ou não. Neste momento não tenho nada em mente, talvez esteja mesmo a precisar de sentir o Caminho…

R. – Que conselho daria a quem ainda não teve esta experiência?
L- – Que acima de tudo limpe a mente e afaste possíveis fantasmas (existem muitos receios, muitas dúvidas perfeitamente normais), depois recolha algumas informações (sempre úteis) e dê um passo em frente. Quando der conta estará a chegar à Praça do Obradoiro e terá uma mochila cheia de histórias.

R. – Para finalizar, o Caminho é…
L. – Uma metáfora da própria vida.

P.S. Caso tenham curiosidade em saber mais sobre o autor e as suas obras acedam a https://www.luisferreiraescrita.com/

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