Isabel Madureira
Em plena pandemia, pais, alunos e professores prepararam-se para o regresso ao ensino presencial. Todos conscientes de que este ano letivo será certamente um ano muito diferente daqueles a que todos nós estávamos habituados.
A primeira preocupação de todos foi saber se os estabelecimentos de ensino estavam preparados para receber os alunos, professores, funcionários e restante comunidade educativa. As dúvidas começaram a surgir quando verificamos que o número de alunos por turma não reduziu, logo muita gente a respirar o mesmo ar, pois as salas não estão preparadas para receber turmas com 25 ou mais alunos.
A escola onde me encontro colocada este ano letivo, zona do Tâmega, é grande, mas as salas são pequenas para o número de alunos que constituem as turmas que leciono. Para além do problema das salas e número de alunos, parece-me que dentro do parque escolar as restantes normas de segurança estão plenamente asseguradas. Os meus alunos cumprem, rigorosamente, as normas emanadas pela DGS e as específicas da escola: medição da temperatura à entrada na escola, desinfeção das mãos, etiqueta respiratória, uso de máscara nas aulas e recinto escolar e o possível distanciamento social.
O problema coloca-se à saída da escola, os alunos juntam-se, tiram a máscara e amontoam-se nos autocarros escolares e nos cafés, ou seja, as regras são para cumprir apenas dentro da escola, pensam eles.
Então, era previsível que o número de casos tenha aumentado exponencialmente na zona onde se insere a minha escola e na própria escola.
O meu papel, enquanto educadora, tem sido falar constantemente com os alunos e encarregados de educação no sentido de se protegerem sempre quer dentro, quer fora da escola. Parece-me que tenho tido alguns frutos, dado que nas minhas turmas ainda não surgiu nenhum caso positivo de Covid-19. Não sei até quando vamos evitar o aumento de casos, mas sei que não podemos nunca baixar os braços. Dentro da escola, os alunos estão organizados em “bolha” A ideia é que os alunos da turma contactam apenas entre si: partilham horários, a sala de aula, as mesas na cantina e um espaço específico do recreio durante os intervalos. As idas à casa de banho só devem acontecer durante as aulas e só pode sair um aluno de cada vez. No início do ano foi feita a planta da sala e os alunos têm, em princípio, a mesma sala em todas as aulas e o mesmo lugar. Tudo para evitar ajuntamentos e que as turmas se cruzem, reduzindo assim os contactos entre alunos.
O receio é cada vez maior nesta altura do ano (gripes que se confundem com os sintomas covid-19). Depois estar muitas horas com máscara, sempre a falar, e com portas e janelas abertas, podem imaginar o que pode acontecer. Por isso, a célebre frase “Vai correr tudo bem” é uma pura mentira. Não, não vai correr tudo bem e, todos nós, temos plena consciência disso.
Agora, gostaria de vos dar o meu testemunho do que é lecionar num ano de pandemia. Primeiro, faz-me imensa confusão não conhecer os colegas, não saber que caras escondem atrás da máscara, mas faz-me mais confusão ainda não ver a cara dos meus alunos. Há alguns que já os vou conhecendo pelos seus olhos. Alguns serão bem diferentes daquilo que, enquanto docente, imagino. Em segundo lugar, também vos quero dizer que é muito difícil falar seis horas seguidas com máscara. Os intervalos são pequenos e utilizo-os apenas para mudar de uma sala para a outra. Não se pode, em momento algum, tirar a máscara, a não ser para beber água. Então ao final do dia, 18 horas e 30 minutos, que é quando acabo, uma vez que só dou aulas à tarde, tirar a máscara é uma sensação de total alívio. Começo a respirar novamente. As dores de cabeça são imensas. É um cansaço extraordinário para professores,
alunos e funcionários. Estes passam o dia a correr para conseguirem, em tempo útil, desinfetar os espaços, de modo a assegurar a maior segurança possível.
Na minha escola, os contactos presenciais são excecionais. Todas as reuniões, professores, encarregados de educação, são feitas através da plataforma Teams. As aulas de apoio são dadas na mesma plataforma.
Perguntar-me-ão se é a mesma coisa. Não, não é, mas é a única forma de evitar contactos desnecessários.
Aguardo, apreensiva, o desenrolar desta pandemia. Gosto da escola, dos alunos e direção que nos apoia nos momentos de fragilidade e, todos juntos, seremos mais fortes